O CIRCO
Quando eu entrei no
Circo, já passava trinta minutos das quinze horas. O espetáculo começaria às
dezesseis. Era a primeira vez que eu ia ao Circo, e estava ansiosa demais.
Ganhei o ingresso na Escola, e, com a permissão de minha mãe, fui, sozinha. Meu
irmão também ganhou ingresso, mas, ele se antecipou, não quis me esperar, penso que por
ansiedade, para ver logo as novidades do Circo. Sentei-me nas
arquibancadas superiores, na geral, no lugar mais distante do picadeiro, mas,
parecia-me que estava nos primeiros lugares. O espetáculo começou, e vi,
deslumbrada, os shows de contorcionistas, malabaristas, palhaços, dançarinos,
trapezistas e domadores de animais, se desenrolarem em meio às luzes coloridas,
ao brilho das fantasias e aplausos do público. Tudo superara minha expectativa:
o Circo era bom demais. Quase perdi o fôlego, de tão angustiada que fiquei,
vendo os artistas do trapézio empreendendo vôos belíssimos e ariscados, numa
harmonia incrível, arrancando ovações do
público. Deduzi, sem delonga, que ser artista de Circo, não era nem de longe, a
minha vocação. Fui sozinha, como disse. No tempo da minha infância, em cidades
do interior, criança podia andar sozinha. Não havia sequestros, pedófilos, nem
a quantidade de carros e motos, congestionando o trânsito, e tornando-o tão caótico, como hoje. A figura
que mais amedrontava as crianças, era o bicho papão, o papa-figo, personagem
folclórico que simbolizava o mal, pois, mesmo em escala muintíssimo menor, ele
existia. O mágico, o último a se apresentar, deitou e rolou. Fiquei impressionada,
por muitos dias, pensando em como ele fazia para cortar a moça ao meio, e ela
sair ilesa, com tudo acontecendo diante de nossos olhos. E o atirador de facas?
Sem comentários, quase tive um enfarto. Curioso é que apesar da minha pouca
idade, algo me dizia que tudo não passava de mentira, e eu nem conhecia a
palavra ilusão, de ilusionismo. Não sei se tudo isso deu um nó na minha cabeça,
ou se foi pura coincidência, só sei que às dezoito horas, o espetáculo
terminou, e saí do Circo no meio de uma multidão sorridente, por um caminho
iluminado, ao som de música animada. Quando pus os pés fora do Circo, vi que já
era noite. O céu estava estrelado, sem nuvens, era uma noite de verão. Tudo
estava perfeito, quando me dei conta de que estava ariada. Ariada? Sim,
desorientada, perdida, sem saber que rumo tomar, como voltar pra casa. Eu via
as ruas, umas e outras, tão conhecidas minhas, mas, não sabia onde estava, para
que lado me dirigir, e deu-me um desespero como nunca havia sentido. Nas
imediações do Circo já não se via tanta gente, e aquilo aumentava o meu temor.
Será que vou ter que dividir a jaula com o leão? E nada de a mente voltar à
realidade. Eu estava ali, num local conhecido, mas não sabia onde estava... que
coisa! Aí, de repente, aparece o meu irmão, que saía do Circo (penso que ele
foi o primeiro a entrar e o último a sair), e me salvou a pátria. E pensar que
eu nem comentei com ele o que acontecia. Fiz de conta que estava tudo bem e
saímos juntos para casa. No íntimo eu estava agradecida a ele, por ter
aparecido naquela hora tão necessária. O que achei, e ainda acho fenomenal, é
que depois de andar no máximo dois metros, em companhia de meu irmão, me orientei (desariei). Interessante!
(Por Socorro Melo)
7 comentários:
Menina que sustaço! Salva pelo gongo, literalmente. Adorei o conto. Bjs Marli
Oi minha amiga rsrsrs informação de mais em tenra idade faz coisas. imagino que foi surpreendente teu passeio ao circo. Não sei te explicar o que houve mas penso que ao encontrares teu irmão conseguiste sair do sonho e tomar pé do caminho. obrigado pela visita. Muitos beijos da Eliane.
Ariado(a)! Fazia muito tempo que não ouvia esta palavra. Sei bem o que ela significa, pois já experimentei esta sensação. Parabéns pelos textos. Fr. Salvio.
Um grande susto, Marli, pode crer! rsrs
Eliane, informação demais ainda me dá nó na cabeça até hoje, rsrsrs
Essa tirei do baú, frei Salvio,
rsrsrs
Muito grata, amigos, pela visita!
Paz e bem a todos!
Socorro Melo
Cara Socorro otimo texto fertil lembrança ,passeiei nele e vieram a tona minha vida interiorana onde a melhor diversão era o Circo.Gratas recordacoes...Justifica-se seu encantamento.Bom Ano-novo .bjs
Oi Querida
saudades.
Belo o seu conto.
bjs
Oi, Socorro, saudade de ti!
Gostei muito de ler este pedacinho da tua história, das tuas memórias infantis. Em pequenita também me lembro com saudade das vindas do Circo ao meu bairro.
Acho que o que te aconteceu foi, como vinhas deslumbrada por todo aquele espectáculo e seu esplendor, ao chegares à rua e veres a noite, bloqueaste com medo e não foste capaz de te situar. Mas, como sempre, o teu Anjo apareceu - o teu irmão - e tudo serenou dentro de ti.
Um grande beijinho da Bombom
Postar um comentário