Pegadas de Jesus

Pegadas de Jesus

terça-feira, 29 de dezembro de 2015

PESSOA BLINDADA


Pessoa blindada. É o que parece. Levanta uma muralha de indiferença ao seu redor, que não há diálogo que derrube.

Pessoa blindada é imprevisível. Quando tudo vai bem, ótima pessoa: sabe ser cordial, receptiva. Quando contrariada, se revela: descompensada, azeda, mal agradecida.

Imatura? Imatura. Meio selvagem. Não sabe utilizar bem o código de comunicação. Se uma palavra lhe é dirigida, contra-ataca, com ofensas. Ofensas que são flechas afiadas, que atingem o “inimigo” bem dentro da alma, e causa um estrago enorme.

Pessoa blindada é seca. Não consegue sentir ou saber o que provoca uma poesia. Não canta. Não dança. Não sorri. Grunhe.

Blindada. Não sabe oferecer uma flor. Nem sequer aprecia a beleza das flores. Nem do luar. Nem se encanta com as estrelas. Não diz eu te amo. Não abraça. É rude. Selvagem. Não faz mimos a quem ama. Ama? É desinteressada. Opaca. Sem brilho.

Pessoa blindada se exclui. Se fecha no comodismo. Gosta de ser servida. Não se compraz com o que é belo. Aliás, nem sabe o que é o belo. Não se deixa amar. Espanta. É uma ilha, quando poderia ser um mar.

Não se ama. Não sabe amar. Não é livre e tolhe a liberdade dos outros. Pessoa blindada. É uma ostra. Não, ostra não. A ostra tem a nobreza de produzir a pérola, mediante o sofrimento. Pessoa blindada não. Não sabe dividir, não sabe contemplar, não soma, não agrega valores. Não fala, não ouve, não vê, não sabe viver... Não se enlaça. Não sabe ser feliz. Que lástima!

(Socorro Melo)


domingo, 27 de dezembro de 2015

POR TRÁS DE CADA LÁGRIMA...




Se vê  pesadas correntes
Rastro de dor, desespero
Anseios de vida urgentes

Se vê fome e sede hostis
Tratamentos desumanos
E preconceitos vis

Se vê feridas abertas
Abandono e exclusão
E injustiças molestas

Se vê crianças mutiladas
Vítimas de guerras insanas
E miséria escancarada

Se vê vergonha contida
Desrespeito e intolerância
Com a dignidade da vida

Se vê gritos de dor
Apelos de esperança
E mendicância de amor.

Socorro Melo




quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

O NUMINOSO EM MIM

Participação na VI Interação Fraterna de Natal - Tema: O numinoso em mim, promovido pela amiga Rosélia do Blog http://www.idade-espiritual.com.br/

Um tema rico de conteúdos, de experiências, que podem ser apreciadas nos Blogs participantes. Muito grata, Rosélia, pelo convite. Espero que minha humilde participação tenha atendido a proposta da BC. 




O NUMINOSO EM MIM

A percepção do sagrado despertou em mim muito cedo. Sempre gostei de silêncio, e de quietude. Sempre me chamou a atenção situações simples que talvez para a maioria das pessoas não tivesse valor algum, mas que para mim diziam alguma coisa. Gostava de ficar horas fitando as estrelas, e imaginando o que haveria por trás delas, porque, uma voz interior me dizia que havia Alguém maior para além delas...

Fui crescendo com essa certeza. Era de dentro de mim que ela brotava. Eu não tive influência nenhuma. Pensava muito. Questionava muito. Não encontrava respostas.
Participava da santa Missa com respeito, com reverência, mas sem consciência do quanto era sublime. Por muito tempo foi assim. Mas eu sentia que faltava algo, não poderia ser somente aquilo que eu via, tudo era muito ritual.

E daí começou a minha busca de Deus. Eu não queria crer que Deus se manifestara apenas aos homens do passado, da antiga aliança. Ele não poderia ter abandonado a humanidade, por certo Ele se manifestaria de alguma forma, no nosso tempo. Eu aprendi que vivemos o tempo do Espírito Santo, e que Ele é o doador dos dons, e porque eu não via nada? Nada acontecia, era tudo tão ritual.

A fome e a sede de Deus aumentavam. A vontade de conhecê-lo ainda mais. E daí fui devorando livros. E mais livros. A princípio sem uma meta definida, porém, depois mais selecionados. Nunca tive nenhuma direção espiritual. Mas, mesmo assim fui despertando para a mística. E na busca desse conhecimento fui assimilando respostas para tantas de minhas perguntas.

Li sobre todas, ou quase todas as principais religiões do mundo. Até participei, por curiosidade, acima de tudo, de cultos de outros credos diferentes do meu, e até simpatizei com alguns deles, mas, nunca senti vontade de mudar de religião, eu só queria encontrar as respostas dentro daquela que sempre professei. E assim aconteceu.

Por um tempo me descuidei da fé. Mas, mesmo nesse tempo percebia a presença de Deus me conduzindo. E num momento de grande angústia, de vazio profundo, de desesperança, eu encontrei Deus. Quando eu já não sabia como agir na minha vida. Quando a tristeza tomava conta de mim. Do meu vazio eu clamei a Deus, e Ele só precisava disso para me preencher.

Do nada me apareceu a oportunidade de fazer uma peregrinação, e eu a abracei com todas as minhas forças. Foi o jeito mais terno e suave que já vi de um Pai reconduzir um filho de volta para casa, um filho que merecia talvez uns bons puxões de orelhas.

A peregrinação foi uma bênção, uma unção. Derramei diante de Nossa Senhora de Fátima, lá em Fátima, a minha pequenez, a minha ignorância, a minha insegurança, e pedi que me ajudasse a fazer a experiência de Deus, depois, lá em Assis, pedi a são Francisco que me ajudasse a abrir os olhos da fé, e ele me ajudou. Firmei propósitos de mudança. Ao retornar, conheci a espiritualidade franciscana, o que muito  ajudou na minha conversão.

Sim, porque apesar de ser participante da Igreja eu ainda não era convertida, eu não tinha despertado para a grandeza da espiritualidade. Apesar do movimento íntimo do meu ser, da minha busca constante, nada era ainda claro, eu não enxergava o outro lado.

Após a peregrinação comecei a colocar alguns pontos nos “is”. Comecei a estruturar minha vida para se adaptar à mudança que eu pretendia fazer na minha rotina. Procurei caminhos que me levassem ao crescimento espiritual, e me lancei com fé e esperança nesses caminhos.

Um dos caminhos que eu encontrei foi a meditação cristã, oração contemplativa, com a qual eu me identifiquei  plenamente. Outro caminho foi a Lectio Divina, e um terceiro muito rico: a vida dos santos, especialmente os grandes místicos da igreja (S. Teresa de Ávila, S. João da Cruz, S. Pedro de Alcântara, S. Gemma Galgani, S. Verônica Giuliani, S. Pe.Pio) porque é neles que eu encontro mais fortemente os sinais da presença de  Deus no meio de nós.

A meditação me ensinou a buscar Deus dentro de mim mesma, pois, o meu coração é a sua morada, eu sou templo do Espírito Santo. Despertou-me para realidades até então desconhecidas, para o auto conhecimento. E assim, convicta agora dessa realidade espiritual que já começo gozar pela fé, entre quedas e avanços, vou fazendo a minha história com Deus, em Jesus, Ele que é a minha luz, a minha razão de ser, e a minha meta.

E assim passei a entender a parábola da pedra preciosa escondida no campo... E hoje faço a experiência de viver com Deus. Não existe maior conforto.

(Socorro Melo)


Desejo a todos os leitores um feliz e abençoado Natal!


sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

OLHA NOS MEUS OLHOS

Certa feita participei de um grande Seminário, na área de Recursos Humanos. E uma das oficinas, trabalhada por uma famosa psicóloga, foi muito marcante. Primeiro, pela desenvoltura com que ela conduzia os trabalhos, e segundo, porque parecia que ela dizia tudo o que queríamos ouvir, ou que precisávamos ouvir. Ela era agradável, atenciosa, e tinha uma larga experiência profissional.

E num dado momento, anunciou que faria conosco uma dinâmica de grupo. Ficamos entre apreensivos e curiosos, pois, quem é da área de Recursos Humanos, conhece um pouco os métodos de trabalho dos psicólogos, que por vezes, são bizarros.

Posicionamo-nos, conforme ela nos orientou, de dois em dois, um defronte pro outro, e segurando nas mãos, como se fossemos dançar a famosa peneirinha das quadrilhas matutas do Nordeste. Nesse ponto já estávamos rindo muito, e nos balançando, a exemplo da dança acima citada.

A instrutora pediu silêncio e atenção, e vendo que já estávamos posicionados, enunciou o procedimento da dinâmica, que era o seguinte: deveríamos nos manter sérios, e durante um tempo determinado por ela, que não era muito, nos olharmos nos olhos uns dos outros... E segurar o olhar.

Parecia tão simples, mais não foi. Até então, ríamos e brincávamos, e estávamos à vontade, porém, a partir do momento em que tentamos cumprir nossa tarefa, a coisa se complicou. Todos nós tivemos dificuldades de olharmo-nos nos olhos uns dos outros.

Uns riam muito, outros se curvavam, alguns tentavam e quando parecia que ia dar certo explodiam, e muitos declararam que não conseguiriam. A psicóloga insistiu, e não arredou o pé, até que nos enfileirássemos de novo, pois já havíamos tumultuado o ambiente.

Recomeçamos do zero. E dessa vez tensos, apreensivos...  Fomos de novo orientados, e aos poucos, um grande silêncio se fez na sala, quebrado apenas por alguns
abafados sorrisinhos. E dali a instantes, olhando-nos nos olhos, por frações de segundos, pois era tudo que conseguíamos, via-se torrentes de lágrimas brotarem de todos os olhos...

Por que este ato nos fragiliza tanto? Por que é tão difícil olhar nos olhos de outra pessoa? A sensação de encarar o outro face a face, e sustentar o seu olhar, é a mesma de nos despir diante de alguém. É como se o outro pudesse descobrir, através dos nossos olhos, todos os nossos segredos, como se nossa alma estivesse desnuda, como se o nosso maior tesouro estivesse à mostra.

Um ditado popular diz que ”os olhos, são o espelho da alma”, e é bem pertinente essa imagem. Ao olharmos nos olhos de outra pessoa, entregamo-nos. É um gesto muito forte, diante do qual, parece que mostramos nossa verdadeira identidade, nossas intenções, e fantasias.

E só vamos conseguir olhar, de fato, nos olhos de quem amamos, ou de quem nos ama, pois ali encontramos aconchego. Sabemos que quem nos ama, de verdade, não nos julga, e nos aceita como somos, com nossas imperfeições.

Quando o nosso olhar se cruza com o de alguém, que não é nosso afeto, a tendência é desviarmos. É como se estivéssemos invadindo uma propriedade alheia, ou sendo invadidos.

E assim, no fim dos trabalhos, olhando-nos desconfiados uns para os outros, nos abraçamos, e guardamos conosco, cada um, o instante mágico daquela viagem, em que navegamos para dentro da alma de nossos colegas, e colhemos um pouco da sensibilidade, que por tantos é guardada a sete chaves. E foi muito rica a conclusão dessa atividade. Foi há muito tempo.

(Socorro Melo)



terça-feira, 1 de dezembro de 2015

O POVOADO


O ônibus velho sacolejava enquanto ia cortando a estradinha de terra, e pelo barulho que fazia, dir-se-ia que na próxima curva se despedaçaria. Os bancos rasgados, sujos e empoeirados, as janelas quebradas, davam conta do quanto já havia passado o seu tempo de vida útil, mas, para aquele povoado, onde não havia nenhuma fiscalização, ainda era o principal e único meio de transporte coletivo,  que o ligava à cidade.

Eu estava absorta na paisagem que se descortinava à minha frente, sempre tão bela, encantada com o verde brilhante ao sol do meio dia, vendo passar ao lado as casinhas de taipa, outras de alpendres, e as recentes fazendas bem cuidadas. Vez por outra passava um barreiro quase seco, ou com água lamacenta, animais pastando, e as lembranças iam surgindo cada vez mais fortes em minha mente.
Há tantos anos eu fazia aquele percurso, vez em quando, e involuntariamente as janelas da minha memória se abriam para me presentear com fatos antigos, momentos vividos na mais tenra idade, em companhia dos meus jovens pais e da minha família.

E eu recordava nitidamente da casa de farinha, me via amedrontada à margem do rio Ipojuca num dia de enchente olhando as jangadas, via as mulheres artesãs confeccionando utensílios de barro, sentia o impacto dos tiros de bacamarte na noite de São João, a emoção do coco de roda nas festas juninas, via as bonecas de pano que minha madrinha fazia,  a procissão de São Sebastião percorrendo as poucas ruas do povoado, os pagadores de promessa com suas fitas vermelhas em volta do corpo, o presépio da Igrejinha que sempre me encantava, as brincadeiras e jogos infantis à noite sob um céu estrelado, o zabumbeiro e o homem do pífano que saíam de casa em casa recolhendo doações para o leilão da festa do padroeiro, os bolos de mandioca assados na palha da bananeira, as crianças beijando o altar de rosas de Nossa Senhora nas animadas noites de maio e benditos piedosos das devoções da semana santa.

E quando um nó já se formava na minha garganta, e algumas lágrimas saudosas teimavam em transbordar dos olhos, aquele povoado amigo, berço de minhas origens, se fazia notar à frente, de braços abertos para me receber, depois de me despertar uma doce comoção. Quase nada havia mudado. Ou não? Aquela serra alta e bonita que lhe serve de encosta continuava lá, com sua exuberância, mas as casinhas antigas já denotavam sinais de modernidade, já se via uma pracinha bem cuidada, um supermercado, colégios, barzinhos, e os celulares e Internet indicando que o futuro também chegara ali.

Não era mais aquele lugar pacato da minha infância, onde sequer tinha televisão. Algumas tradições se mantinham, mas, mesmo os costumes  haviam mudado muito. Porém, mudança alguma foi capaz de apagar a história que trago dentro de mim, tendo sido aquele pequeno pedaço de chão, o cenário de grandes alegrias do meu tempo de menina.


(Socorro Melo)

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

CONTO: DESENCANTO


Quando ele cruzou o limiar da porta, e o vi pelas costas, levando consigo os meus sonhos de um amor ideal, minhas esperanças de uma vida perfeita, minhas ilusões, desmoronei. O chão abriu-se sob os meus pés, e me senti tragada. Estava tudo acabado.

A desilusão fechou-me as portas da alegria, e da vontade de viver, e abriu-se uma torrente de lágrimas.  Eu mal conseguia acreditar que pudesse ser verdade tudo o que estava me acontecendo. Por vezes, fechava os olhos, na esperança de ao acordar, constatar que tudo não passava de um terrível pesadelo... Mas, não era.

A vida perdera as cores, tudo me parecia cinzento, sem sentido. Desaparecera o brilho dos meus olhos, e eu já não ouvia a música suave que cantava o meu coração.

Desmoronei. Que dor lancinante! Nunca imaginei que o desespero causasse uma dor tão doída e tão profunda...

De angústia e tristeza foram pincelados os meus dias. E o meu coração inconsolável, gemia, inconformado pela perda, e pela saudade incontida.

Tudo em que acreditei, tudo o que investi, tudo que mais amei, se dissipava da minha vida como fumaça ao vento. 

Caí, me prostrei. Expus as feridas da minha alma. Deixei me conduzir pela solidão. Debati-me à procura de veredas, de caminhos amenos, porém, nada aplacava a minha dor. Por momentos tornei-me fria, insensível, para logo após, tatear à procura de esperanças, e de paz interior.

Sofri horrores, por dias que pareceram sem fim. E me permitir ficar assim, até me esvaziar de toda dor, e perceber que a vida é mais que o desengano.

Mas aprendi, às duras penas, e o desengano me fez compreender, que a vida é tecida na imprevisibilidade, por pessoas falíveis, com qualidades e defeitos, e que, portanto, está sujeita aos desencontros, e desencantos. 

Entendi que errei quando me enchi de expectativas, e que a vida não é um conto de fadas, a vida é real e essa realidade pode ser dura, muitas vezes.

Um dia a dor havia sarado. Não havia sequelas. Não restaram lágrimas, nem nada negativo. Cresci. Venci a desilusão. 

Mas, ainda acho que a vida sem encanto não tem graça nenhuma. O encanto é a poesia. Não importa se por causa disso precise sofrer, o importante é viver grandes emoções.
   
(Socorro Melo)



quinta-feira, 12 de novembro de 2015

FRAGILIDADE


Ontem, pela primeira vez, eu visitei uma UTI neo-natal. Fiquei sensibilizada com aqueles serzinhos indefesos e frágeis, mas, ao mesmo tempo fortes, lutando pela vida. Alguns entubados, outros precisando usar sondas para receberem o alimento, e todos dependentes de aparelhos e equipamentos médicos.

Bem ao lado da UTI neo-natal, numa sala chamada vip, que de vip só tem o nome, ficam as mamães. Todas apreensivas, cansadas, marcadas pelo sofrimento da espera. Algumas já há bastante tempo ali, ao lado dos seus bebés, aguardando o grande dia de voltar pra casa. Todas têm apenas um desejo, verem seus filhinhos em condições de levar vida normal. E todas carregam no peito um amor imensurável por aquelas criaturinhas frágeis que ainda estão em processo de formação e de fortalecimento.

A UTI neo-natal mexeu  com minha estrutura. Eu nunca havia pensado, de verdade, como seria. Pareceu-me um santuário. Um lugar sagrado. Apesar da fragilidade de cada um, senti uma energia boa, positiva, uma ternura pairando no ar. Senti uma força estranha movendo aquele lugar, uma força que sozinhos aqueles bebezinhos não teriam. E percebi a importância do trabalho daquelas profissionais, tão dedicadas, delicadas, cuidadosas, um pouco mãe de cada um. 

Em contrapartida, hoje, quando fazia minha caminhada matinal, ultrapassei uma senhora magrinha, bem velhinha, que caminhava a passos lentos, levando numa mão uma garrafinha de água, e na outra uma sombrinha. Pareceu-me tão frágil, talvez ainda mais por ser encurvada. E fiquei observando-a. E ela caminhava até bem, dentro das suas limitações. Era a luta por uma melhor qualidade de vida, certamente.

Achei tão bela a atitude daquela senhora, de estar às seis da manhã, naquela idade, com tantas limitações, se exercitando. Senti que uma força estranha movia aquela mulher, o desejo de viver, de aproveitar cada instante procurando se melhorar.

Dois extremos. O começo e o fim da vida. A primavera e o outono. Ambos tão permeados pela fragilidade. E assim é o nosso caminho. Tão dependentes uns dos outros. Tão frágeis. Tão pequenos.

Mas, no meio do percurso nos enchemos de orgulho, de insensatez, e passamos a acreditar que somos independentes, implacáveis, poderosos... Qual nada!  Ai de nós se não houvesse uma força estranha a nos mover, a nos direcionar, e a dar maior sentido às nossas vidas.

(Socorro Melo).

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

ERA SÓ UM MENINO


Era só um menino. Um menino sírio...
Uma das imagens que mais me emocionou, nesses dias, foi a de um menino sírio, gravemente ferido, que antes de morrer  disse, resoluto:  eu vou contar tudo a Deus...
Sim, menino, conte tudo mesmo, conte o que os homens tem feito de nossa terra, o quanto a tem destruído, e o quanto tem desrespeitado a criação movidos por uma cobiça insana e uma sede desvairada de poder...
Conte que toda a riqueza se concentra nas mãos de poucos, enquanto milhares de milhares são excluídos das sociedades, tratados como lixo, descartados...
Conte como morrem de fome e o quanto são violentadas e arrancadas a esperança e a inocência de tantas crianças assim como você...
Conte o quanto, pela força, os malvados escravizam os mais fracos...
Conte o quanto é ridicularizado o homem justo, honesto, o homem de paz...
Conte, como barbaramente são mortos tantos cristãos, simplesmente porque  se propuseram a seguir o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo, a fazer o bem e a  viver o amor...
Conte, o quanto se corrompem, se animalizam, o quanto mentem, o quanto jogam na lama a dignidade de filhos de Deus, que por Ele foi dada a cada um...
Conte, conte mesmo, conte tudo... Deus é amigo das crianças e vai lhe ouvir, e quando lhe aprouver, vai por um fim nesta balbúrdia.  Ele vai gostar de saber o que acontece por aqui...
Você, como tantos outros meninos do mundo inteiro: africanos, iraquianos, latinos, foram e são violentamente feridos, abusados, invadidos, escravizados, assassinados... Vocês, só meninos...
Eles mataram o seu corpo, mas, não podem matar a sua Alma. Voa para Deus, voa ao encontro da eternidade, da segurança e da paz, e nunca mais se assuste com o clarão das armas, elas não mais lhe atingirão... Agora você está seguro e a única visão de luz que terá será o brilho do próprio Deus, o brilho da luz que não se apaga...
Conte tudo para Deus, e não esqueça de interceder por tantos outros meninos e meninas que continuam chorando, amedrontados, sonhando com um refúgio seguro e com a liberdade, com o direito de brincar, de ir à escola, de serem felizes no seio de suas famílias.
Conte, conte mesmo, conte tudo...
À você, dedico este singelo texto e minhas orações.
(Socorro Melo)



quinta-feira, 8 de outubro de 2015

EMOÇÕES

Estou em processo de desaceleração. Somente agora, depois dos cinquenta anos, tomei consciência do quanto me violentei, do quanto me cobrei, e de como tão pessimamente administrei minhas emoções. Estresse. Estresse. Estresse. Agi assim motivada pelas circunstâncias, pela falta de experiência e talvez até herança genética. Contrariei-me por tão pouca coisa. Quantas descargas emocionais por problemas tão insignificantes e até imaginários! Gostaria de voltar no tempo, e ter oportunidade de refazer o meu caminho, com a bagagem que tenho hoje. Como não posso, tenho me esforçado para dar uma nova dimensão à minha qualidade de vida.
Herdei dos meus antepassados, possivelmente, a inquietude, o temperamento agitado, a impulsividade, o imediatismo.  Quantas vezes me desarmonizei por ninharia. Ansiedade e impaciência sempre foram características marcantes. Nunca soube trabalhar sobre pressão, ou com prazos exíguos, nem assumir várias atividades ao mesmo tempo. Mantinha-me calada, nos momentos de tensão, e lutava contra essa impulsividade sofrendo toda a agressão em silêncio, toda descarga emocional.  Inúmeras vezes fui vítima de estafa, de cansaço mental. E com certeza tudo isso refletiu nos meus relacionamentos, nos mais estreitos, ainda mais.
Certa feita participei de um evento importante que tratou das competências emocionais. O profissional, um psicoterapeuta, fazia uma comparação da nossa constituição psíquica com um jogo de xadrez, onde o EU, era o Rei e o EGO, o cavalo, e pude perceber o quanto na vida fui dominada pelo cavalo.
Sentia-me presa e necessitada de pasto para abastecer o ego. Havia um vazio de sentido e uma angústia velada. Apesar de tudo isso, Deus sempre ocupou um lugar importante na minha vida, eu só não sabia como lidar com Ele. Não sabia alimentar corretamente a minha fé e nem controlar as emoções, nunca soube. Aí veio uma crise. Bendita crise, que me fez refletir sobre muita coisa, e a partir dela tomei atitudes novas e me pus em busca da serenidade e da paz, e consegui.
Depois de um tempo de procura, o encontro. De repente, foi como se uma luz tivesse se acendido dentro de mim. E ela expandiu minha consciência e iluminou recantos que eu nem imaginavam tivessem obscurecidos. Pude me ver sem máscaras. E vi o quanto me enganei na vida, o quanto sou frágil, mas também o quanto amo e valorizo a vida. Procurei avidamente me preencher de Deus e me esvaziar de todo lixo emocional. Dos seus sinais fiz o meu caminho. E tenho buscado essa comunhão todos os dias, caindo e levantando, mas, com objetivo, perseverante, esperançosa, apaixonada. A vida em Deus é uma experiência, e eu me propus a fazê-la, e descobri tanta coisa que o véu da ignorância ocultava. Ele não é algo à parte, inacessível, ele é Presença real e constante. 
Começo a perceber o Rei (o meu eu) no comando da minha vida, insisto nisso, quero isso. Retiro o pasto do cavalo (o meu ego) e vejo-o relinchar de descontentamento, e sinto o quanto é boa a sensação de vencer a mim mesma. Insegurança, vazio, sombra, angústia, medo, tudo vai se dissipando numa sutileza impressionante. E as cores da vida vão surgindo, em nuances, alegres e festivas quando nos harmonizamos e equilibramos as emoções.
A meta a ser perseguida quotidianamente é a paz, na certeza de que “tudo contribui para o bem daqueles que amam a Deus”.  
Por Socorro Melo
  


sexta-feira, 2 de outubro de 2015

HUMANIDADE




Eu sou livre. Você é livre. Nós somos livres. Somos? Como saber?  Vivemos numa sociedade que dita regras, que dita moda, que massifica, e nós vamos assimilando essa cultura sem se quer nos questionarmos. Parecemos robôs, produzidos em série. Temos aversão ao que é diferente. Copiamos tudo, de todos. Verdadeiras marionetes.

Vamos nos deixando moldar pelas ideologias. Vamos escondendo nossos princípios com medo de sermos ridículos. Vamos deixando de lutar contra o que destrói nossas famílias. Vamos, por comodismo, deixando de reclamar dos abusos, tornando nossas Instituições incompetentes. Vamos apagando a nossa fé. Vamos nos empaturrando de remédios para acalmar ansiedades, insônias e depressões.

Vamos perdendo o respeito pelo próximo, pela vida. Vamos crescendo em orgulho e egoísmo. Vamos nos tornando individualistas. Vamos nos deixando ofuscar pelo brilho do mundo. Vamos nos deixando escravizar pela tecnologia. Vamos criando e adorando ídolos. Vamos achando que somos melhores do que os outros. Vamos deletando Deus de nossas vidas...

E, enquanto isso, usamos máscaras: bonitas, coloridas, alegres. Cada um de nós pode ter várias, para usar conforme a própria conveniência. De máscara nós parecemos bonzinhos. Representamos bem nossos papéis. Fazemos sucesso. Recebemos aplausos.

Por dentro, tantas vezes, estamos em pedaços. Corações cheios de mágoas, de ressentimentos, de raiva, de insatisfação, de fobias... Corações vazios, a dois passos de uma colapso. Mas, por fora, somos sorrisos. Escondemos por trás das máscaras as nossas atitudes mesquinhas, as nossas fraquezas, a nossa impaciência e maldade. E prosseguimos em ritmo de carnaval, demonstrando uma alegria falsa, rodopiando e desfilando nossas fantasias, como verdadeiros papangus.

Que pena! Nós fomos criados para muito mais do que isso. Fomos pensados, amados e dotados para sermos grandes, para sermos autênticos, para sermos homens e mulheres livres. Criados com inteligência para dirigirmos as nossas vidas para o bem e para o amor. Mas, preferimos viver em guerra. Preferimos nos separar. Tudo é motivo de divisão. Alcançamos tantas conquistas, até fomos à lua, entretanto, amargamos nossa decadência moral. 

Envolvidos em tão grandes absurdos, temos destruído nossa felicidade, que só é possível na fraternidade. Temos vivido atrás das grades, com medo uns dos outros. Alimentamos a cultura do prazer, como se ele fosse o objetivo maior. Matamos bebés. Mutilamos crianças. Arrancamos dos jovens a esperança. Abandonamos idosos. Esquecemos que somos efêmeros, e que na próxima curva do caminho podemos encontrar a morte. Ignoramos que haverá um julgamento universal... Deus continua Deus, apesar da nossa loucura e hipocrisia. 

Precisamos arrancar as máscaras  e aprender do próprio Deus a lição da  humildade. Sem Ele nós somos apenas pó e cinza. Caveiras enfeitadas. De que servirá nossa prepotência? A vida maior? Requer esforço. Transformação interior.  Sabedoria. Renúncia. Então, viveremos a vida de Deus... Nada disso é fácil, é cruz, mas não é impossível, pois, “tudo podemos Naquele que nos fortalece”.

(Socorro Melo).

domingo, 27 de setembro de 2015

PIEDADE




Dedico este post ao amigo Luciano que hoje encerrou sua trajetória nesta terra, e à sua mãe, com os meus sinceros sentimentos... Só muda os personagens, a dor é a mesma ...

"Olhei emocionada para a fotografia à minha frente. Era a La Pietá de Michelangelo. Pensei em Nanda, e em Dona Sofia. A Pietá sempre me emociona, pois, o artista soube transmitir com muita originalidade a dor de uma mãe que põe nos braços um filho morto: é uma dor descomunal, uma tristeza ímpar, um desespero sem nome. Tantas vezes já vi fotografias dessa obra, em livros, na rede mundial de computadores, mas, dessa vez foi diferente, pois, a fotografia em minhas mãos, foi tirada por mim. Estive ali, me espremendo no meio de pequena multidão, para ver de perto a obra original de Michelangelo que está exposta na Basílica de São Pedro, no Vaticano. E eu a vi, e me emocionei, pela oportunidade que representou para mim aquele instante. Mas, por que me lembrei de Nanda, e de sua mãe?

Porque um dia eu as vi assim, como na Pietá. Porque as lágrimas de Dona Sofia, o desespero e a dor eram iguais ao da virgem Maria. Porque Nanda jazia morta, num triste caixão à sua frente, e ela não podia fazer mais nada. Porque ela não desgrudava de perto, porque segurava as mãos da filha com tanto carinho, como se pudesse, num passe de mágica, reverter àquela situação, dar-lhe de novo à luz, ou acordar de um terrível pesadelo.

Nanda dedicara-se à mãe, desde que a mesma sofrera um AVC. Praticamente não tinha mais vida própria. Seu mundo era o trabalho, e até mesmo esse, já havia sofrido interferências, e a sua casa, onde em tempo integral cuidava dela.

A família era pequena: apenas ela, a mãe, e mais uma irmã e um irmão, que moravam fora, com suas respectivas famílias. E Nanda vivia apenas com sua mãe, que dela dependia totalmente. Fazia-lhe todos os gostos, tratava-a com carinho, era paciente, e não lhe deixava faltar nada.

Dona Sofia, que era octogenária, vez por outra, tinha fortes crises e precisava ser hospitalizada e Nanda, se afastava do trabalho para acompanhá-la. Nesses momentos, chamava a irmã, para ajudá-la, mas, se a situação não fosse muito grave, nem isso ela fazia. Os amigos advertiam-na, para que não se sobrecarregasse tanto, pois, isso poderia ter conseqüências na sua saúde, mas Nanda, não se preocupava muito com isso. Queria poupar a todos de sofrimentos. E por muitos anos, viveram assim. Ela era bem humorada, apesar de como vivia. E não deixava que a tristeza se apoderasse de sua mãe, sempre tinha uma história engraçada pra contar... E dona Sofia, apesar das limitações, parecia feliz. Nanda era o seu sustentáculo, junto com sua fé.

Até que um dia, o coração de Nanda não agüentou tanta pressão, e ela se foi, de forma súbita, inesperada...

Na manhã daquele dia eu a encontrei, sentada em um banco, aguardando a sua condução para o trabalho. Tudo parecia normal, nada denotava que naquele dia a vida teria um desfecho diferente. Cumprimentamo-nos, sorrimos, e eu prossegui minha caminhada, sem sequer imaginar que aquela seria a ultima vez que eu a veria com vida.

E assim foi. Só mais tarde, quando recebi a notícia da sua morte, refleti sobre tanta coisa, e mais especialmente, sobre a efemeridade da vida. Nanda não existia mais, os seus belos e serenos olhos azuis não se abririam mais, e a sua voz, que proferia palavras firmes e confortantes se calara para sempre.

E ali, na minha frente, a La Pietá ganhou vida. Mudaram-se apenas os personagens: era dona Sofia, que com o semblante carregado de dor, acarinhava sua amada filha, que se despedia para sempre. Seu mundo parecia ter desmoronado, seu sofrimento era incomensurável.

A piedade, retratada na obra genial de Michelangelo, ganha vida todas as vezes, que uma mãe se debruça diante de um filho que se adianta, que se antecede, e que se vai, contrariando o curso natural, a lógica da vida. Como se a vida tivesse lógica...


Por esse, e por tantos outros exemplos, que vi de perto, confirma-se que a vida não tem lógica, nem curso normal, e que a única certeza é a de sermos impermanentes. Vivamos, pois, o agora, que é a nossa garantia, e deixemos na vontade de Deus o futuro que pode existir ou não. E que a La Pietá, o sofrimento alheio, sempre encontre no nosso coração a mais pura compaixão, o mais firme abraço, ou apenas o silêncio, que servirá de alívio, de lenitivo, para o que imaginamos ser a mais cruel de todas as dores do ser humano, perder um filho".

(Socorro Melo)

sexta-feira, 25 de setembro de 2015

NOVA CHANCE


Ouvia-a dizer: não me arrependo de nada do que fiz na minha vida. Faria tudo de novo, igualzinho. E outras vozes, se uniram à dela em coro, concordando e repetindo a mesma coisa.

Fiquei pasma. Será que eu ouvi bem? Sim, porque não consigo conceber que uma pessoa  se arvore em dizer que não fez nada do que se arrependa. Todos nós fazemos. Uns mais, outros menos.

Errar é bem próprio do ser humano. E onde há erros, falhas, mal entendidos, também há angústias, frustrações, e desamor. E somente à medida que formos aprendendo com as experiências da vida é que vamos nos ajustando, crescendo, e mudando nossas atitudes, consequentemente.

Quando erramos é imprescindível que reconheçamos o nosso erro, mesmo que isso nos traga dor ou constrangimento, e o primeiro passo para a mudança é justamente o arrependimento. Como não se arrepender de nada do que se fez durante uma vida inteira?

Não nos arrependermos do que fizemos, significa que não queremos descer do nosso pedestal, não queremos dá o braço a torcer, em suma, agimos motivados por um orgulho exacerbado.

E o orgulho, nos priva do prazer de sermos pessoas honestas e autênticas conosco mesmas e com as pessoas da nossa interação.

O que motivaria uma pessoa, a se sentir tão segura, a ponto de achar que fez tudo certo na vida? A vida humana é uma sucessão de desencontros. Quantas vezes somos agressivos, impacientes, hostis, egoístas e imprudentes? E quando agimos assim, até mesmo por força das circunstâncias, acabamos ferindo alguém, com nossos gestos e atitudes. E isso não seria um bom motivo de arrependimento?

Será que ao afirmar que faria tudo igualzinho, sem tirar nem pôr, sem arrependimentos, a pessoa não estaria buscando afirmação, ou quem sabe, desafiando os desafetos? E neste caso, não seria melhor aplicar a lição do perdão, e recomeçar?

É lógico que muito do que fizemos, se nos fosse dado uma nova chance de recomeçar, faríamos de novo. Escolheríamos, por exemplo, viver ao lado de uma pessoa que amamos, mesmo conhecendo-lhe os defeitos, pois o importante seria o amor que sentimos por ela.

Poderíamos, quem sabe, exercer uma determinada atividade que exercemos no passado, que nos era prazerosa, mesmo sabendo que não era rentável, mas, o que importaria verdadeiramente, seria o prazer de  fazer o que se gosta.

Se tivéssemos chance, poderíamos morar em um determinado lugar onde já moramos, e que gostamos muito, repetir uma viagem, participar de umas tantas coisas, mas, isto não significaria que tudo deveria ser exatamente igual, pois nada é igual, nunca foi, e jamais será.

E a novidade é importante, pois, há muita coisa que fizemos, no passado, e que nos trouxe tristezas, que já foi suficiente, e que não valeria a pena repetir.

Portanto, o essencial da vida é seguir em frente, sempre em frente, buscando o novo, pois, cada dia nos traz as suas próprias novidades. E nós, os seres humanos, somos ávidos por inovações.

Quando nos for dada uma nova chance, aproveitemos para fazer melhor, para cuidar melhor do nosso interior, dos nossos sentimentos, das nossas aspirações, sempre na expectativa de vivermos em harmonia.

E jamais nos esqueçamos de manter aceso o ânimo, que é o nosso combustível por excelência, e que possamos ter sempre a humildade de saber avaliar e discernir o que precisa ser mudado, e abraçar com ímpeto a diversidade de oportunidades.

Eu me arrependo de muita coisa que fiz no passado, e com muito gosto, procuraria fazer melhor. Sempre.


(Socorro Melo)

sábado, 19 de setembro de 2015

VAMOS BRINCAR COM A CHICA Nº 31?





Iniciativa é fazer acontecer em primeira mão



Esta é a minha partcipação na brincadeira da Chica. Para conhecer a Chica e os outros participantes acesse
http://sementesdiarias.blogspot.com.br

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

MEDITAÇÃO



Num ambiente tranquilo, na penumbra, sentada, em profunda quietude, com olhos suavemente fechados, coluna alongada, mãos sobre as pernas, pés ligeiramente afastados, vou buscando o silêncio interior. O ideal é que se faça silêncio exteriormente, mas, mesmo que não aconteça, ou que o mesmo seja rasgado por alguns instantes, o grande desafio é permanecer atenta, serena, concentrada, em busca desse encontro com Deus e comigo mesma, no mais profundo do meu ser. E o nome de Jesus é a minha âncora, o meu mantra. A ele dedico toda a minha atenção. E assim eu fico, por no mínimo vinte minutos, todos os dias, manhã e noite. É o meu caminho de silêncio. É a meditação cristã. Antes, invoco a presença do Espírito Santo para fazer comigo esse caminho, para me ajudar a repousar nos braços do Pai, e pronunciar pelo Espírito, o santo nome de Jesus, o Filho. É um momento de adoração. Um momento sagrado. A meditação é uma forma de oração. Nela não entoamos louvores, nem agradecimentos, nem fazemos petições ou intercessões, nela nos abandonamos nos braços de Deus, e nos calamos, para que Ele nos fale ao coração. Comprovadamente, a meditação traz inúmeros benefícios, e não é praticada somente pelos religiosos, mas, por quem deseja fazer a experiência do recolhimento. A mim parecia algo bizarro, até conhecer. Aprendi que para trilhar por este caminho é necessário conviver bem com as distrações, pois, elas são eternas companheiras , que vão diminuindo à medida que vamos crescendo. Não avalio as dificuldades de concentração, de alguns momentos, pois, elas fazem parte do processo de aprendizagem. Não medito visando receber benefícios, medito por que amo a Deus, e essa é uma experiência que me aproxima Dele, vez que creio que Ele habita o meu interior. Porém, nesse curto período de caminhada, já percebo as mudanças que considero frutos da minha experiência: estou mais harmonizada  mais firme na fé, mais serena, menos impaciente e menos medrosa. Já consigo me confrontar com as minhas fragilidades sem me atormentar e procuro semear boas sementes nesse canteiro interior. E agradeço a Deus por este caminho espiritual, e por ter conhecido a Escola Franciscana de Meditação, que me mostrou essa riqueza, essa pérola preciosa que é a oração de meditação, com a qual eu me identifiquei grandemente. (Socorro Melo).
“ Se a felicidade tivesse um som, seria o silêncio” Benjamim Taubkin, músico.


sexta-feira, 11 de setembro de 2015

ANOS DOURADOS...



Anos dourados...

Nós, mulheres desta foto, temos, ao menos, duas coisas em comum: somos amigas da aniversariante, e somos cinquentinhas... Vivemos os anos dourados.
Dourados porque comemoramos recentemente, cada uma a seu tempo, o nosso jubileu de ouro.
Eu, particularmente, não tive o prazer de festejar em grande estilo os meus 50 anos, pois, na época passava por um período de cuidados com a saúde.

E fico pensando, cá com meus botões: são mesmo anos dourados?

Estou na esquina do tempo nº 50, como bem definia uma saudosa amiga e escritora, a Glorinha Leão, autora de um livro com este título.

O que me proporciona esse tempo? O que vejo nessa esquina? O encerramento da carreira profissional, o envelhecimento dos pais, a saída do filho de casa, e as sutis mudanças biológicas inerentes à idade... Todavia, não só.

Penso num tempo de liberdade. Um tempo em que eu tenha disponibilidade para cuidar melhor de mim, para viver sem correrias, para me libertar, um pouco, do jugo do relógio.
Confesso que até amadurecer a ideia de aposentaria, tive medo. Medo de me desligar do universo do trabalho, da rotina de todos os dias, das novidades desse universo, e do companheirismo. Tive medo das perdas financeiras. 

Houve uma luta dentro de mim. Mas, aos poucos eu fui confrontando os pós e os contras, ponderei, rezei, aceitei e decidi: vou me aposentar em breve, e estou encarando com naturalidade essa ideia sabendo que estou diante de uma fase da minha vida que se encerra, porém, de outra que se inicia.

E pretendo viver meus anos dourados com muito ânimo e dinamismo. E tenho para eles alguns pequenos projetos. Construí a minha vida dentro dos meus princípios, dos meus valores, daquilo em que sempre acreditei. Errei muito, mas, acertei, por vezes. Aspirei tantas coisas, me lancei em tantas oportunidades, repensei tanto minhas escolhas, caí e levantei, mas, estou de pé e sou consciente de que a vitória é isso.

Quero, neste novo caminho, ter um olhar diferente para a vida. Quero fazer valer cada minuto.  Quero me tornar uma pessoa melhor, mais humana, e quero agradar, acima de tudo, a Deus. (Socorro Melo)


sexta-feira, 4 de setembro de 2015

ESPERANÇA


A vida é fatal. É incurável. Começamos a morrer no dia em que nascemos. As perdas são sucessivas, rotineiras... Curioso é que mesmo sabendo que avanço para a morte, alguma coisa me impulsiona a seguir. Há uma pressa de chegar. E de chegar onde? Como? Se a única certeza palpável é mesmo a morte. Não importa, mesmo me sabendo condenada, o amor à vida me torna imortal. É algo inexplicável. Percebo que existe uma dinâmica interior, irrefreável, uma certeza de que além do abismo existe algo maior, algo que me sussurra que devo confiar, que me aponta caminhos, que me diz não estar louca, que desafia a natureza. E assim eu vou me deixando levar, por essa voz tão clara e tão convincente, de que a morte não é o fim, mas, o processo de gestação para uma vida maior, que desconheço, mas, anseio por dela participar. Coincidentemente, depois de escrever este pequeno texto,  encontrei esse pensamento abaixo, de São Bráulio, que se assemelha ao que pretendi expressar. (Socorro Melo)

"O tempo foge insensivelmente, a morte aproxima-se em segredo, e a nossa cega esperança não vê senão as alegrias da vida. Felizes aqueles cuja a alegria é Deus, e cujo gozo repousa na futura bem-aventurança!"  São Bráulio de Saragoça.



segunda-feira, 31 de agosto de 2015

INFORMANDO...


Amigos,
Quando criei este Blog em 2010, eu dispunha de tempo para me dedicar a ele, e a fazer as visitas aos Blogs amigos, porém, logo depois, assumi alguns compromissos que escassearam meu tempo, não mais me permitindo ter a mesma disponibilidade, e então me afastei. Vez por outra eu vinha por aqui, me visitava, e deixava um recadinho, e só, não tinha tempo para mais que isso.
Fiquei muito triste logo que me afastei, pois, fiz grandes amizades, mas, a responsabilidade falou mais alto.
A situação está mudando um pouco agora, os compromissos estão mais flexíveis, e estou em contagem regressiva para a aposentaria (em princípios de 2016). Por isso estou voltando, aos poucos, até poder me dedicar mais assiduamente.
Pretendo, neste ano de 2015, postar pelo menos um texto, semanalmente, e reservar um tempinho para navegar pelos blogs amigos. É o meu projeto.
Sou muito grata aos amigos que nunca me esqueceram, e que continuaram a me incentivar a cada vez que eu aparecia por aqui. Vocês são a razão de ser desse cantinho.
Estou aberta a novas amizades e todos serão sempre bem vindos neste espaço que é cultivado com muito carinho e que se propõe a falar de paz e de amor fraterno.
Grande abraço

Socorro Melo

sábado, 29 de agosto de 2015

INGRATIDÃO



Teoricamente sei que as pessoas não são iguais, que cada uma tem o seu jeito de ser e de agir. O que é importante para uma, não deve ser, necessariamente, a mesma coisa para outra. Sei que devo compreender as limitações e as fraquezas “do outro”, mas, na prática, não consigo entender, como aceitar ingratidão daqueles a quem muito nos doamos. É óbvio que todos nós erramos, fazemos coisas que entristece a quem amamos, vacilamos... mas, repetir as mesmas atitudes egoístas, mesmo sabendo que elas vão ferir, machucar, indignar... Irresponsabilidades, cinismos, tudo passa pela mentira, e mentira destrói a confiança. Entendo que nossa liberdade, esbarra sempre na liberdade de alguém. Se temos compromissos, eles exigem satisfações. Como não cumpri-los? É falta de amor e de respeito agir de forma egoísta, e ainda por cima, tentar se justificar com meias verdades. Decididamente, ainda não sei como se ofertar perdão a quem não faz questão de receber.

Por Socorro Melo 

terça-feira, 25 de agosto de 2015

ESPIRITUAL IDADE - CONFIANÇA VIRTUAL

  

Esta é a minha participação na festa do Blog Espiritual-Idade (http://www.idade-espiritual.com.br/ ) da Rosélia Bezerra.
Parabéns, Rosélia, por nos presentear com uma página tão iluminada, e com a sua amizade tão calorosa. Que o  Espiritual-Idade continue mostrando a sua beleza e vivacidade, alegria e inocência (de seus seis aninhos), e nos ensine a perseverança, que passa pela confiança, para fortalecer os laços de amizade que se fazem por aqui. 



CONFIANÇA VIRTUAL
A pessoa humana é a maior maravilha do mundo. E justamente por ser inexplicável, incompreensível, exerce tanto fascínio.  A amizade é o que nos aproxima desse mistério. Uma vez amigos, vamos descobrindo as grandezas de cada um. E para viver essa aventura, muitas vezes pagamos um preço. Até que tenhamos mergulhado no universo de cada ser, precisamos de ousadia para adentrar. A confiança requer ousadia. Ter confiança é dar crédito ao outro. É acreditar na sinceridade e na retidão moral. Ela cresce e se estabelece à medida que vamos levantando o véu, conhecendo a outra pessoa.
No mundo virtual, eu, particularmente, sondo as pessoas pelo que escrevem, pelo que pensam,  pelo que creem, pelo que lutam, pelo que se indignam. Pelas atitudes. Porque até mesmo nesse universo podemos perceber comportamentos, sutilezas, grandeza de alma, humildade, mas também pretensão, imaturidade, vaidade e preconceito.
A confiança virtual é acima de tudo ousadia, que nada mais é que prudência. Prudência é respeito, é cautela. E quando não nos esquecemos disso, podemos sim, firmar amizades sadias e verdadeiras, que passam a agregar valores em nossas vidas.
Nunca passei por qualquer experiência desagradável, negativa ou impertinente, durante mais de cinco anos em que navego nas redes sociais. Pra isso tomo minhas precauções: sou respeitosa, não me envolvo em polêmicas, e não me relaciono com pessoas que não demonstram prezar os princípios que me norteiam. E assim, vou desfrutando dessa aventura que é construir amizades, e foi assim, que nasceu a minha amizade com Rosélia e com tantos outros nesse mundo virtual, em quem confio e com quem partilho minha experiência de vida.

(Socorro Melo).


segunda-feira, 10 de agosto de 2015





Blogagem Coletiva proposta por Norma Emiliano, em comemoração aos seis anos do seu Blog http://pensandoemfamilia.com.br/

Muito grata, Norma, pelo convite, e parabéns pelo Blog que tem uma proposta bonita e digna, de compromisso com a família. Eis a minha história...


DE  CARRO A PATOS...


Eu tinha 20 anos. Participava do Rotaract, o clube de jovens do Rotary Club, da minha cidade Belo Jardim, em Pernambuco.
Naquela ocasião nós, do Rotaract Club, iríamos participar de uma Convenção Distrital que aconteceria na cidade de Patos, na Paraíba.
Eu não conhecia Patos, e estava animadíssima para esse evento, tanto por conhecer a cidade, quanto pelas expectativas do encontro, pois, tudo era novidade, eu apenas começara a descobrir o mundo.
Chegou o dia, e lá fomos nós.
Na véspera da viagem, as meninas do grupo,  dormimos na casa da nossa amiga Júlia, de onde sairíamos pela madrugada, junto com os rapazes, rumo ao nosso destino. Na verdade nem conseguimos dormir, de tanta emoção. Rimos e conversamos muito, e às três da manhã, partimos.
Seguimos pela BR 232 em direção ao sertão de Pernambuco, para num determinado ponto, entrar na Paraíba, só que tomamos um atalho, para ganhar tempo, e ao invés disso nos perdemos, e rodamos por muito tempo sem se quer ver uma vivalma e sem ter noção de onde estávamos. Era o tempo da Copa do mundo de 1982, da Espanha, e depois de rodar tanto sem saída achávamos que não tardaria para que Madri aparecesse à nossa frente. Brincávamos para manter a calma, pois, já começávamos a nos preocupar com a possível falta de combustível. Depois de muito tempo, chegamos à estrada principal, a BR.
A hora já estava avançada, e talvez não conseguíssemos chegar para abertura do evento, onde deveríamos nos apresentar. Prosseguimos animados. Em Monteiro, na Paraíba, quando o sol já estava alto, o carro se chocou com uma coluna de ferro e cimento. Por sorte não nos ferimos, mas, o susto foi grande, e ainda perdemos um pouco mais de tempo tentando nos desvencilhar dos policiais rodoviários que faziam inúmeras perguntas e tencionavam segurar o carro que ficara um pouco amassado, entanto, com nosso tradicional jeitinho brasileiro conseguimos convencê-los, era só um amassadinho de nada. E lá fomos nós cortando o sertão da Paraíba.
Chegamos tarde, cansados e com muita fome. Perdemos a abertura do evento e o café da manhã. Porém, o encontro estava animadíssimo, com muitos jovens, muitas atividades, música, bandeiras, cores, coreografias, etc.
Passados os momentos de contrariedade, tudo se normalizou. Fomos alojados, almoçamos, descansamos e à tarde voltamos para a plenária. Foi o primeiro evento de grande porte que eu participei. Fiquei um pouco deslumbrada com tudo. Nunca viajara para tão longe... Nunca participara de um encontro com tanta gente,  com jovens de várias cidades, de quatro estados diferentes...  Nunca havia escutado palestrantes tão bons e tão dinâmicos, além dos meus professores... Eram tantas as atividades, as brincadeiras, as dinâmicas, os jogos, que o tempo parecia voar... E houve um campeonato de futebol de salão, e o nosso time masculino foi chegando de mansinho, e se classificando. Era um timizinho fraco, sem perspectiva, mas, na noite daquele sábado se tornou um gigante e se  classificou para a grande final na manhã seguinte. Tinha vencido outros mais expressivos, mais agressivos, e conseguiu se impor e sonhar com a taça daquela Convenção.
E para coroar àquele dia, ainda faltava algo acontecer: à noite, acordei com muito barulho no alojamento feminino, e um entra e sai de mulheres correndo pro WC, e mesma coisa acontecendo com os garotos no alojamento masculino. As filas dos sanitários eram quilométricas, pois, alguma coisa estragada no jantar, havia causado toda aquela confusão, que ainda assim, tornara-se ocasião de divertimento para os jovens. Fui dos poucos que escaparam desse vexame.
Dia seguinte, domingo, último dia da Convenção, entre outras coisas, eu estava ansiosa para o jogo. Torci muito pelo meu time, incentivei, pulei e gritei na arquibancada, e quando menos se espera, meu time sofre um pênalti, e aí foi o nosso fim. Amargamos o segundo lugar.
Fiquei  amuada, como dizemos aqui no Nordeste. Triste demais. Zangada com os meninos. Indignada com aquela perda irresponsável. E aí, sentei-me em algum lugar perto da Quadra do Ginásio de Esportes, curtindo minha raiva, quando a Júlia bateu essa foto. Todos tentavam me consolar, mas, eu, dura na queda,  por um bom tempo permaneci assim, bicuda.
A volta pra casa foi tranquila...  E só sei que foi assim... Há 33 anos...


(Socorro Melo)