Pegadas de Jesus

Pegadas de Jesus

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

ERA SÓ UM MENINO


Era só um menino. Um menino sírio...
Uma das imagens que mais me emocionou, nesses dias, foi a de um menino sírio, gravemente ferido, que antes de morrer  disse, resoluto:  eu vou contar tudo a Deus...
Sim, menino, conte tudo mesmo, conte o que os homens tem feito de nossa terra, o quanto a tem destruído, e o quanto tem desrespeitado a criação movidos por uma cobiça insana e uma sede desvairada de poder...
Conte que toda a riqueza se concentra nas mãos de poucos, enquanto milhares de milhares são excluídos das sociedades, tratados como lixo, descartados...
Conte como morrem de fome e o quanto são violentadas e arrancadas a esperança e a inocência de tantas crianças assim como você...
Conte o quanto, pela força, os malvados escravizam os mais fracos...
Conte o quanto é ridicularizado o homem justo, honesto, o homem de paz...
Conte, como barbaramente são mortos tantos cristãos, simplesmente porque  se propuseram a seguir o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo, a fazer o bem e a  viver o amor...
Conte, o quanto se corrompem, se animalizam, o quanto mentem, o quanto jogam na lama a dignidade de filhos de Deus, que por Ele foi dada a cada um...
Conte, conte mesmo, conte tudo... Deus é amigo das crianças e vai lhe ouvir, e quando lhe aprouver, vai por um fim nesta balbúrdia.  Ele vai gostar de saber o que acontece por aqui...
Você, como tantos outros meninos do mundo inteiro: africanos, iraquianos, latinos, foram e são violentamente feridos, abusados, invadidos, escravizados, assassinados... Vocês, só meninos...
Eles mataram o seu corpo, mas, não podem matar a sua Alma. Voa para Deus, voa ao encontro da eternidade, da segurança e da paz, e nunca mais se assuste com o clarão das armas, elas não mais lhe atingirão... Agora você está seguro e a única visão de luz que terá será o brilho do próprio Deus, o brilho da luz que não se apaga...
Conte tudo para Deus, e não esqueça de interceder por tantos outros meninos e meninas que continuam chorando, amedrontados, sonhando com um refúgio seguro e com a liberdade, com o direito de brincar, de ir à escola, de serem felizes no seio de suas famílias.
Conte, conte mesmo, conte tudo...
À você, dedico este singelo texto e minhas orações.
(Socorro Melo)



quinta-feira, 8 de outubro de 2015

EMOÇÕES

Estou em processo de desaceleração. Somente agora, depois dos cinquenta anos, tomei consciência do quanto me violentei, do quanto me cobrei, e de como tão pessimamente administrei minhas emoções. Estresse. Estresse. Estresse. Agi assim motivada pelas circunstâncias, pela falta de experiência e talvez até herança genética. Contrariei-me por tão pouca coisa. Quantas descargas emocionais por problemas tão insignificantes e até imaginários! Gostaria de voltar no tempo, e ter oportunidade de refazer o meu caminho, com a bagagem que tenho hoje. Como não posso, tenho me esforçado para dar uma nova dimensão à minha qualidade de vida.
Herdei dos meus antepassados, possivelmente, a inquietude, o temperamento agitado, a impulsividade, o imediatismo.  Quantas vezes me desarmonizei por ninharia. Ansiedade e impaciência sempre foram características marcantes. Nunca soube trabalhar sobre pressão, ou com prazos exíguos, nem assumir várias atividades ao mesmo tempo. Mantinha-me calada, nos momentos de tensão, e lutava contra essa impulsividade sofrendo toda a agressão em silêncio, toda descarga emocional.  Inúmeras vezes fui vítima de estafa, de cansaço mental. E com certeza tudo isso refletiu nos meus relacionamentos, nos mais estreitos, ainda mais.
Certa feita participei de um evento importante que tratou das competências emocionais. O profissional, um psicoterapeuta, fazia uma comparação da nossa constituição psíquica com um jogo de xadrez, onde o EU, era o Rei e o EGO, o cavalo, e pude perceber o quanto na vida fui dominada pelo cavalo.
Sentia-me presa e necessitada de pasto para abastecer o ego. Havia um vazio de sentido e uma angústia velada. Apesar de tudo isso, Deus sempre ocupou um lugar importante na minha vida, eu só não sabia como lidar com Ele. Não sabia alimentar corretamente a minha fé e nem controlar as emoções, nunca soube. Aí veio uma crise. Bendita crise, que me fez refletir sobre muita coisa, e a partir dela tomei atitudes novas e me pus em busca da serenidade e da paz, e consegui.
Depois de um tempo de procura, o encontro. De repente, foi como se uma luz tivesse se acendido dentro de mim. E ela expandiu minha consciência e iluminou recantos que eu nem imaginavam tivessem obscurecidos. Pude me ver sem máscaras. E vi o quanto me enganei na vida, o quanto sou frágil, mas também o quanto amo e valorizo a vida. Procurei avidamente me preencher de Deus e me esvaziar de todo lixo emocional. Dos seus sinais fiz o meu caminho. E tenho buscado essa comunhão todos os dias, caindo e levantando, mas, com objetivo, perseverante, esperançosa, apaixonada. A vida em Deus é uma experiência, e eu me propus a fazê-la, e descobri tanta coisa que o véu da ignorância ocultava. Ele não é algo à parte, inacessível, ele é Presença real e constante. 
Começo a perceber o Rei (o meu eu) no comando da minha vida, insisto nisso, quero isso. Retiro o pasto do cavalo (o meu ego) e vejo-o relinchar de descontentamento, e sinto o quanto é boa a sensação de vencer a mim mesma. Insegurança, vazio, sombra, angústia, medo, tudo vai se dissipando numa sutileza impressionante. E as cores da vida vão surgindo, em nuances, alegres e festivas quando nos harmonizamos e equilibramos as emoções.
A meta a ser perseguida quotidianamente é a paz, na certeza de que “tudo contribui para o bem daqueles que amam a Deus”.  
Por Socorro Melo
  


sexta-feira, 2 de outubro de 2015

HUMANIDADE




Eu sou livre. Você é livre. Nós somos livres. Somos? Como saber?  Vivemos numa sociedade que dita regras, que dita moda, que massifica, e nós vamos assimilando essa cultura sem se quer nos questionarmos. Parecemos robôs, produzidos em série. Temos aversão ao que é diferente. Copiamos tudo, de todos. Verdadeiras marionetes.

Vamos nos deixando moldar pelas ideologias. Vamos escondendo nossos princípios com medo de sermos ridículos. Vamos deixando de lutar contra o que destrói nossas famílias. Vamos, por comodismo, deixando de reclamar dos abusos, tornando nossas Instituições incompetentes. Vamos apagando a nossa fé. Vamos nos empaturrando de remédios para acalmar ansiedades, insônias e depressões.

Vamos perdendo o respeito pelo próximo, pela vida. Vamos crescendo em orgulho e egoísmo. Vamos nos tornando individualistas. Vamos nos deixando ofuscar pelo brilho do mundo. Vamos nos deixando escravizar pela tecnologia. Vamos criando e adorando ídolos. Vamos achando que somos melhores do que os outros. Vamos deletando Deus de nossas vidas...

E, enquanto isso, usamos máscaras: bonitas, coloridas, alegres. Cada um de nós pode ter várias, para usar conforme a própria conveniência. De máscara nós parecemos bonzinhos. Representamos bem nossos papéis. Fazemos sucesso. Recebemos aplausos.

Por dentro, tantas vezes, estamos em pedaços. Corações cheios de mágoas, de ressentimentos, de raiva, de insatisfação, de fobias... Corações vazios, a dois passos de uma colapso. Mas, por fora, somos sorrisos. Escondemos por trás das máscaras as nossas atitudes mesquinhas, as nossas fraquezas, a nossa impaciência e maldade. E prosseguimos em ritmo de carnaval, demonstrando uma alegria falsa, rodopiando e desfilando nossas fantasias, como verdadeiros papangus.

Que pena! Nós fomos criados para muito mais do que isso. Fomos pensados, amados e dotados para sermos grandes, para sermos autênticos, para sermos homens e mulheres livres. Criados com inteligência para dirigirmos as nossas vidas para o bem e para o amor. Mas, preferimos viver em guerra. Preferimos nos separar. Tudo é motivo de divisão. Alcançamos tantas conquistas, até fomos à lua, entretanto, amargamos nossa decadência moral. 

Envolvidos em tão grandes absurdos, temos destruído nossa felicidade, que só é possível na fraternidade. Temos vivido atrás das grades, com medo uns dos outros. Alimentamos a cultura do prazer, como se ele fosse o objetivo maior. Matamos bebés. Mutilamos crianças. Arrancamos dos jovens a esperança. Abandonamos idosos. Esquecemos que somos efêmeros, e que na próxima curva do caminho podemos encontrar a morte. Ignoramos que haverá um julgamento universal... Deus continua Deus, apesar da nossa loucura e hipocrisia. 

Precisamos arrancar as máscaras  e aprender do próprio Deus a lição da  humildade. Sem Ele nós somos apenas pó e cinza. Caveiras enfeitadas. De que servirá nossa prepotência? A vida maior? Requer esforço. Transformação interior.  Sabedoria. Renúncia. Então, viveremos a vida de Deus... Nada disso é fácil, é cruz, mas não é impossível, pois, “tudo podemos Naquele que nos fortalece”.

(Socorro Melo).