Pus-me
a imaginar a vida como se fosse um trem. E me dividi em vagões. Quem sabe não
organizaria e administraria melhor.
Primeira
providência foi colocar Deus para dirigir o precioso trem. Todavia, vez por
outra, me intrometi no trabalho dele.
Determinei
um vagão para a razão, em lugar privilegiado, e busquei aparelhá-lo com todas
as novidades possíveis.
Depois
fui distribuindo os outros vagões entre: a espiritualidade, os sentimentos, as
amizades, o trabalho, a família, o lazer, os estudos, a literatura, as relações
humanas, etc. Não necessariamente nesta ordem.
E tudo
foi se encaixando perfeitamente. O condutor, sempre fidelíssimo à sua missão, respeitou
consideravelmente a minha liberdade. Curioso é que mesmo sabendo-o com razão,
aqui e ali resolvi ousar, ou seja, desafiá-lo, coisa que nunca deu muito certo.
E por essas rebeldias paguei um preço.
O trem
da minha vida quase sempre viajou tranquilo, porém, houve momentos de
estremecimentos, que foram contornados sem causar grandes perdas. Alguns até,
foram permitidos pelo condutor, para que eu entendesse o que representa a
estrada. E eu aprendi.
Mas há
um vagão, que eu confesso, nunca consegui dele o resultado esperado. E olha que
coloquei nele todo meu empenho. Um vagão que parece ter vida própria,
insubordinado. Um vagão desgovernado.
Comumente
ouvimos dizer que há pessoas que alimentam seus pecados de estimação. Penso que
não é o meu caso. Posso até alimentar errado o meu vagão, mas, não tenho por
ele qualquer estimação. Como disse, parece que ele tem vida própria.
Bem,
sei que não é assim. No fundo eu tenho minha participação na ineficácia desse
vagão, contudo sei que está ainda bem distante a possibilidade de encarrilhá-lo
e mantê-lo firme nos trilhos.
O
condutor já me deu o Manual de Instruções, que não está escrito em grego ou
chinês, mas, penso que ainda preciso vencer muito a cegueira espiritual para
entender. Oxalá eu consiga! Ainda bem que ele não desiste de mim, mesmo sabendo
o quanto turrona eu sou.
(Socorro
Melo)
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