Pegadas de Jesus

Pegadas de Jesus

sexta-feira, 23 de maio de 2014

UM VAGÃO DESGOVERNADO


Pus-me a imaginar a vida como se fosse um trem. E me dividi em vagões. Quem sabe não organizaria e administraria melhor.
Primeira providência foi colocar Deus para dirigir o precioso trem. Todavia, vez por outra, me intrometi no trabalho dele.
Determinei um vagão para a razão, em lugar privilegiado, e busquei aparelhá-lo com todas as novidades possíveis.
Depois fui distribuindo os outros vagões entre: a espiritualidade, os sentimentos, as amizades, o trabalho, a família, o lazer, os estudos, a literatura, as relações humanas, etc. Não necessariamente nesta ordem.
E tudo foi se encaixando perfeitamente. O condutor, sempre  fidelíssimo à sua missão, respeitou consideravelmente a minha liberdade. Curioso é que mesmo sabendo-o com razão, aqui e ali resolvi ousar, ou seja, desafiá-lo, coisa que nunca deu muito certo. E por essas rebeldias paguei um preço.
O trem da minha vida quase sempre viajou tranquilo, porém, houve momentos de estremecimentos, que foram contornados sem causar grandes perdas. Alguns até, foram permitidos pelo condutor, para que eu entendesse o que representa a estrada. E eu aprendi.
Mas há um vagão, que eu confesso, nunca consegui dele o resultado esperado. E olha que coloquei nele todo meu empenho. Um vagão que parece ter vida própria, insubordinado. Um vagão desgovernado.
Comumente ouvimos dizer que há pessoas que alimentam seus pecados de estimação. Penso que não é o meu caso. Posso até alimentar errado o meu vagão, mas, não tenho por ele qualquer estimação. Como disse, parece que ele tem vida própria.
Bem, sei que não é assim. No fundo eu tenho minha participação na ineficácia desse vagão, contudo sei que está ainda bem distante a possibilidade de encarrilhá-lo e mantê-lo firme nos trilhos.
O condutor já me deu o Manual de Instruções, que não está escrito em grego ou chinês, mas, penso que ainda preciso vencer muito a cegueira espiritual para entender. Oxalá eu consiga! Ainda bem que ele não desiste de mim, mesmo sabendo o quanto turrona eu sou.

(Socorro Melo)

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