Pegadas de Jesus

Pegadas de Jesus

segunda-feira, 11 de junho de 2012

DIGNIDADE HUMANA


Certa feita, eu voltava de um Centro Médico, de ônibus, depois de ter ficado horas esperando, para ser atendida em exatos dois minutos. Revoltada por ter perdido tantas horas do meu precioso tempo, resmungava pra mim mesma o quanto era deficiente o atendimento médico, mesmo em caráter particular.

Numa determinada parada, entrou no ônibus uma jovem senhora, carregando uma criança deficiente. Era um menino de aproximadamente seis a sete anos, e tinha deformidades nos membros superiores, inferiores, e na face. E me pareceu que problemas mentais também. A imagem daquela criança me chocou. Imaginei-me no lugar da mãe, que tão carinhosamente o assistia, e compreendi o quanto de dificuldades ela deveria enfrentar, todos os dias.

Enquanto eu me sentia desrespeitada, apenas por ter esperado de três a quatro horas no consultório, onde pude ler um livro tranqüilamente, e onde o ambiente era climatizado, e tinha a  disposição água e café, aquela senhora fazia um tremendo esforço, para carregar o seu filho, para atendimento médico, enfrentando toda a precariedade do serviço público. E depois, ainda tinha que utilizar transporte coletivo, totalmente inadequado a sua situação, para se deslocar com o filho. Fiquei muito sensibilizada.

Eu olhava para aquela criança, tão indefesa, e tão dependente, com muita compaixão. E me perguntava: por que tinha que ser assim? Que mal fizera aquela criança para receber da vida tão grande provação? Porém, como me encontrava novamente diante de questionamentos que jamais iriam ter respostas, enveredei por outro tipo de questionamento: por que o governo não presta serviços de qualidade à pessoa deficiente? A sociedade paga seus impostos para essa finalidade: facilitar a vida do cidadão. Atender a pessoa deficiente, e lhe conceder um mínimo de conforto, deveria ser prioridade máxima. Certamente não resolveria o caso de cada um, mas, com certeza, conferia-lhes mais conforto, e a suas famílias, e seria uma ação de grande valor em prol da dignidade humana.

Lembrei-me de um filme, que assisti há bastante tempo. É um filme belíssimo, e que me marcou profundamente, tanto que nunca o esqueci. Esse filme, de 1980, foi baseado em fatos reais. E conta a história de um homem, um inglês, que tinha uma doença rara, de nascença: uma neurofibromatose múltipla. Seu corpo era quase que totalmente deformado. A deformidade era tão agressiva, que incutia certa repulsa em quem o olhava, e deixava-lhe com um aspecto animalesco, que lembrava um elefante, por isto o título do filme: O Homem Elefante. A doença foi posteriormente diagnosticada de síndrome de proteus.

No entanto, era uma pessoa humana intensa, de grande sensibilidade, e beleza interior, e que cativava àqueles que dele se aproximavam. Chamava-se Joseph Merrick. Conta a história, que Merrick foi vítima de pessoas inescrupulosas, que desrespeitosamente se aproveitaram da sua fragilidade, das suas limitações, e o escravizaram de forma absurdamente desumana. Os tais algozes, exibiam-no em um circo de aberrações, como uma aberração da natureza. Era apresentado, como a versão mais degradante do ser humano, destituindo-lhe de toda dignidade humana. Chamavam-no de o homem elefante, e o tratavam como a um animal. Era alimentado apenas com batatas, assim como os elefantes, e era constantemente espancado.

Essa história arranca lágrimas até dos mais duros de coração. No enredo, Merrick é descoberto por um médico anatomista, Doutor Frederick Treves, em uma das apresentações do circo, que o internou em um Hospital e passou a estudar sua enfermidade, bem como a lutar pela sua liberdade, e pela consecução dos seus direitos, e da sua dignidade. O filme tem um desfecho belo e poético.

Diante da história de Merrick contada no filme, e de tantos casos de pessoas deficientes, que vivem seus dramas, suas escravizações, e a usurpação de seus direitos, compete a nós cidadãos, cobrar dos nossos representantes, ações governamentais voltadas para a pessoa deficiente. Que lhes confira proteção e segurança.

O deficiente não deve ser tratado com sentimento de pena, pois, não é digno disso, mas, antes, tratado com o respeito que merece. E aquilo que estiver ao nosso alcance fazer, que façamos. Que nos engajemos em todo e qualquer movimento, onde possamos dar a nossa contribuição para facilitar a vida dessas pessoas, e de suas famílias, que sofrem horrores para prestar-lhes assistência.

Eles necessitam de transporte adequado, de tratamento condizente, mas, acima de tudo, de serem tratados com respeito. Não são animais. Não são aberrações... São gente: de carne, osso, e sentimentos, como nós, e por isso merecem uma vida digna, merecem atenção, e muito carinho.

Que empreendamos os nossos esforços nesse sentido, e que façamos pela pessoa deficiente, o que gostaríamos que fosse feito por nós, caso estivéssemos em seu lugar. E que incentivemos toda e qualquer oportunidade de lazer, de trabalho, de cultura, de conhecimento, para que o deficiente apto, viva uma vida feliz, e se sinta incluído na sociedade, como é seu legítimo direito.

Por Socorro Melo

9 comentários:

Elvira Carvalho disse...

Um excelente texto amiga que nos leva a refletir e a repensar a maneira como encaramos os outros.
Um abraço

pensandoemfamilia disse...

Oi Socorro
Muito bom o seu texto. Compartilho desta inquietação e sentimento em relação ao descaso em relação a rede pública em relação as questões tão importantes como a de ptoporcionar qualidade de vida ao deficiente.
Mas, amiga, há um descaso geral com a população, em muitos aspectos, não acha?
bjs

Néia Lambert disse...

Socorro, às vezes reclamamos por tão pouco, lembrar das dificuldades dos outros nos leva a refletir e encarar os problemas de maneira mais leve.
Parabéns pelo seu texto, muito reflexivo.

Beijos

Misturação - Ana Karla disse...

Nossa Socorro que situação.
Tens razão precisamos cobrar das autoridades a nossa dignidade e que seja imposto o respeitos aos deficientes.

Esse filme deve ser interessante, vou anotar para assistir depois.

Também adorei o post.

Um xero grande.

Claudia disse...

Socorro querida! realmente quando nos deparamos com todas estas dificuldades é que enxergamos como o nosso fardo é leve... e acredito que se todos nós fizermos um pouco para cada um que está ao nosso lado, o mundo ficará melhor...beijos e boa noite! bela postagem!

Silenciosamente ouvindo... disse...

Os governos cada vez se importam
menos em utilizar os impostos
cobrados a favor do bem das
pessoas nas várias vertentes.
Os governantes tornaram-se
robôs a favor do grande capital.
Beijinhos amiga.
Irene Alves

BLOGZOOM disse...

Socorro, eu já estive em situaçao parecida. Acho que Deus, de alguma maneira, atraves de exemplos, nos ensina a dar mais valor ao que somos e ao que temos.

Beijos

RUTE disse...

Oi Socorro,
vim lembrar da BC Amor aos Pedaços.
O Questionamento é hoje.
Beijo rápido! Te espero lá!
Rute

Elisa T. Campos disse...

Socorro.

Que triste história relatada por você tão lindamente. Vou verificar se consigo esse filme na locadora.

Infelizmente nossos governantes não tem dado a devida atenção para os nossos deficientes.

Um lindo domingo para você.
Bjs