Pegadas de Jesus

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sexta-feira, 17 de maio de 2013

A FESTA DA PROFESSORA


Ah, que saudade do meu cantinho, e dos meus amigos! Como me fazem falta!
Meus queridos amigos e minhas queridas amigas, paz e bem a todos!
Sintam-se abraçados pelo carinho da minha amizade... 

Deixo-vos uma história, baseada em fato real, que muito me emociona, e que tanto me ensinou.

A FESTA DA PROFESSORA

Nunca me sentira tão humilhado. Eu era só uma criança, e nem sabia o que era, de fato, humilhação, mas, sentia algo ruim, que me deixava triste, impotente, inquieto e ansioso... E aquilo me incomodava.
Interceptei a professora no corredor, quando ela dirigia-se á sala de aula:
- Professora!
Ela se voltou e parou para me escutar.
- Quero dar-lhe os parabéns pelo seu dia. Eu gosto muito da senhora.
Sorrindo ela agradeceu e afagou-me os cabelos. Com a mão conduziu-me à sala de aula, mas eu parei e disse que não podia ir.
- Por que não Severo? – Perguntou.
Eu tentei inventar uma história, mas, com nove anos, e acostumado a dizer a verdade, acabei confessando:
- É que hoje, a turma vai dar-lhe uma festa, em comemoração ao dia do Professor.
- E você não quer participar?
- Bem, querer eu até quero, mas não posso.
- E por que não? - Perguntou interessada.
- É que eu não pude dar a minha contribuição para a festa. Coube-me trazer um quilo de açúcar, mas, minha mãe me disse que não podia disponibilizar toda essa quantia, pois, faria falta em casa.  Por isso os colegas não me deixaram entrar na sala, para a festa. E eu a aguardei no corredor, para lhe parabenizar.
A professora olhou-me terna e longamente, enxugou algumas lágrimas que surgiram repentinamente dos seus olhos, deu um sorriso, e perguntou:
- A festa é pra mim?
- É – Respondi.
- Então venha comigo.
- Obrigada professora, mas, não posso. Não me deixarão entrar.
- Venha comigo Severo, disse ela, pois se não deixarem você entrar, eu também não entro.
E guiou-me pelo corredor em direção à sala...

Eunice era o seu nome. Nome de anjo. Será mesmo que existe algum anjo chamado Eunice? Bem, pra mim ela era um anjo sim, e isso bastava. Sabia da minha precária condição financeira, e de outros tantos colegas. Talvez por eu ser espirituoso, alegre, brincalhão, mas acima de tudo dedicado aos estudos, ela me tinha grande estima. Sempre me presenteava com lápis, borrachas, cadernos, e até livros... Curioso é que esses presentes normalmente chegavam quando o meu material estava se findando. Eu entendia, na ocasião, que ela lia meus pensamentos, e por isso sabia das minhas necessidades. Não alcançava a idéia de que a maturidade e as experiências da vida trazem sabedoria.
Entramos na sala, eu e a professora, de cabeça erguida. Na verdade só ela estava de cabeça erguida, pois eu estava cabisbaixo, esperando o momento de ser enxotado da sala, o que não aconteceu. Os colegas apenas riram e disseram que eu era “peixinho” da professora.
A festa ocorreu em clima de alegria, e a professora aproveitou o momento para nos contar uma história. Essa história enaltecia a grandeza da acolhida, e principalmente, a da partilha sincera, da superação do egoísmo. Falou-nos de solidariedade. Agradeceu a homenagem e ficou ali, conosco, degustando os doces e salgados que foram feitos tão carinhosamente para ela..
Devorei suas palavras como se fosse um manjar, e a admirei ainda mais, pois, naquele momento, ela incutiu na minha mente e no meu coração, que o meu valor como pessoa humana consiste no que eu era e não no que eu tinha.
O seu gesto de amor dissipou a humilhação que eu sentira, e ensinou-nos a grandeza do amor ao próximo. Àqueles que antes me impediram de entrar, vieram ao meu encontro, e me pediram perdão. Perdoei facilmente, como toda criança. Entanto, nunca me esqueci desse episódio de minha vida.
Muitos anos se passaram: trinta anos... Talvez mais. E hoje, eu a encontrei na rua. Caminhando a passos lentos, mas firmes, elegantes. Os cabelos já totalmente brancos, conferindo-lhe um ar de sabedoria. E dirigiu-me o mesmo olhar de ternura, e o mesmo sorriso, próprio daqueles que sabem amar. Fiquei emocionado, quando a abracei. E fiquei a pensar em como é grandiosa a missão do educador, pois, além da transmissão do conhecimento, tem a oportunidade de auxiliar na formação do caráter do educando, na elevação da sua auto-estima, repassando a primordial assertiva, do valor da pessoa humana.
Eunice... Será mesmo nome de anjo? Talvez...


6 comentários:

Lúcia Soares disse...

Oi, Socorro.
Que lindo texto, digno de uma volta sua.
Não se afaste mais. É sempre bom ler você.
Beijo!

Mônica - Sacerdotisa da Deusa disse...

Minha linda flor, que saudades!!!
Fiquei feliz de entrar agora e ver que vc postou algo, ebaaaa :)

Bom, qto ao texto, como sempre, muito lindo né, vindo de vc é isso aí! Eu amei, e no caso desta Eunice, ah sim, um Anjo, que coisa mais linda. Uma pena que hj em dia os professores sejam tão maltratados e menosprezados. Tenho profundo carinho por todos os que passaram e passam pela minha vida.
Beijinhos querida e um abraço bem apertado.

Flores e Luz.

chica disse...

Maravilhosa tua história que adorei.Lindo encontro! Mas me deixou muito feliz, te ver de volta! beijos,tudo de bom,chica

Lúcia Bezerra de Paiva disse...

Volta triunfal, com um belíssimo conto. Só hoje, me dei conta do seu retorno, Socorro, passando por aqui. Espero "Vê-la" mais vezes...
Saúde e paz!

Virginia Maria de Jesus Fassarella disse...

Lindo conto. Seja bem vinda de volta. Beijos.

Elisa T. Campos disse...

Socorro
Um lindo conto que marcou o seu retorno.
Sempre as suas escritas encantam porque fala de perdão, devoção , ternura e amor.

Beijos.