Minha mãe era minha heroína. Sempre fora. Para mim ela era imbatível. E nem mesmo os meus super-heróis preferidos igualavam-se a ela. E naquela correria, lutando contra os efeitos da tempestade, ela me parecia sobrenatural. Mas, de repente, ocorreu um fato em que tive de rever meus conceitos a respeito da coragem de minha mãe.
Já não bastando a tempestade, apareceu por lá uma cobra, trazida pelas águas da chuva. Quando minha mãe a viu, desmoronou, mas não fez escândalo algum. Colocou-nos sobre a sua cama e pôs-se a procurar a cobra que, de repente, sumira de sua vista. Ela estava calada, porém, trêmula e assustada. Ficou brava quando um de nós desceu da cama. E pôs-se na busca da cobra, dificultada pelo aguaceiro e pela bagunça em que estava toda a casa, que era coberta de telha de barro.
Encolhidos sobre a cama, tremíamos de medo da cobra e da tempestade. Eu, na minha inocência, fiquei feliz que o animal tivesse desaparecido, achava que tivesse ido embora, e não via sentido em minha mãe procurá-lo. Mas, ela insistia, e armada de um cabo de vassoura, vasculhava cada canto e recanto da casa.
Repentinamente a cobra apareceu na porta do quarto onde estávamos, no momento em que minha mãe a procurava noutro cômodo. Fizemos um escândalo, é óbvio. Ela veio em nosso socorro, quando a cobra já tinha adentrado o quarto, arrastando-se para debaixo de um móvel. Pôs-se a cutucá-la com a ponta do cabo de madeira, e a bater nela sem piedade, quando a cobra, tentando se defender, foi em sua direção. Minha mãe, aterrorizada, mas firme no seu propósito, subiu na cama e continuou a golpeá-la. A cobra se retorcia, sangrava, dava pequenos botes, porém desfalecia pouco a pouco, até que minha mãe esmagou-lhe a cabeça. Se não fosse uma cobra, creio que teria me escandalizado com tamanha violência. Consumado o ato, mamãe permaneceu sentada na cama, com os braços pendentes, sem forças, mal segurando o cabo da vassoura, melhor, a arma do crime. Depois de instantes, respirou aliviada e saiu para beber um copo de água. Voltou refeita. Recolheu os restos mortais da cobra e os jogou fora.
Curiosa como sempre fui, e admirada com a bravura da minha mãe, pois, ela acabara de reassumir, com mais força, o seu papel de heroína no meu pensamento, perguntei: - Por que a senhora continuou a procurá-la? Sabia que ela estava aqui? E ela respondeu que a cobra é um bicho traiçoeiro e peçonhento, e que se aproveita da nossa ingenuidade e displicência para dar o bote. Que animais assim devem ter a cabeça esmagada, pois, se ferir-lhes apenas o corpo são capazes de se arrastarem e cumprirem seu intento: picar e destilar o veneno. E nesse interim, a tempestade também passou, trazendo-nos a bonança.
Por Socorro Melo (Projeto Cata-Vento).
11 comentários:
Olá Socorro, que história maravilhosa, da coragem da tua Mãe, apesar do medo que sentia! Como o Amor nos torna tâo fortes, quando precisamos de O defender! Que tudo esteja bem contigo e Família. Bjs. Bombom
Oi, Socorro.
Muito corajosa a sua mãe! Eu subiria na cama junto com os filhos e gritaria por socorro, até que outro viesse em meu auxílio e matasse a cobra. Jamais pisaria no mesmo chão que ela estava.
Mas são suposições, pois tb faria de tudo para deixar meus filhos em segurança.
Tenho pânico de cobras!
Sua mãe foi deveras corajosa!
beijo.
Incrível como as mães se transformam para defender suas crias!
Que mãe corajosa e maravilhosa a sua, Socorro!
Imagino que minha mãe fizesse o mesmo numa situação como esta, apesar dela morrer de medo de cobra e eu também acho que faria o mesmo para defender minha casa e meu filho.
Sabe que li tudo numa tacada só!
Sua história prendeu-me a atenção totalmente, muito bem contada.
um abraço carioca
Querida Socorro!
Estive ausente por quase 3 meses. Antes da minha "pausa", para tomar "outros ares", aqui estive algumas vezes mas você se ausentara. Retornei à blogosfera, com bastante lentidão nas visitas aos espaços que gosto. Antes de ler a Tempestade ( que achei incrível, pela braveza de uma mãe heroína), fiz um passeio por postagens anteriores e fiquei apreciando melhor as fotos de SUAS PEGADAS, em fascinantes passeio pela Europa e no aconchego da família. Adorei! Continuemos a nos visitar. Para mim, é um prazer vir
aqui.
Carinhoso abraço,
da Lúcia
Uma heroína, uma destemida assim é uma mãe na proteção de suas crias.
Um conto perfeito para ilustrar a máxima sobre as verdadeiras mães de oficio.
E o bicho ruim tem de ter a cabeça esmagada é uma sabedoria e ensinamentos Socorro.
Uma linda semana a você.
Meu abraço de paz e luz amiga.
Simplesmente sensacional, minha querida. Sensacional! Adorei a mensagem!
Beijo, beijo!
She
Socorro,
Morei numa casa e não muito longe havia um rio. Algumas vezes apareciam cobras e venenosas. A primeira vez que vi uma, chamei meu pai. Ele foi ver se não era uma minhoca e se impressionou. Ele conseguiu matá-la, infelizmente era o unico meio por se tratar de uma terrível cobra.
Com certeza sua mãe foi corajosa, ela tinha o sentimento de proteção, por isso que agiu daquela forma.
Beijos
Socorro, que história menina! Olha, li sem respirar e tremi nas bases porque, de tão bem contada, me fez reviver um episódio semelhante que aconteceu comigo e meus filhos há trina e tantos anos. Eu estava passando uns dias na nossa fazenda. Foi um sufoco, bem igualzinho ao que acabei de ler e EU, EUZINHA tive que matar a cobra e quase desmaiei. Voltei no tempo. Gostei de sua mãe e gostei de mim tbm, duas mulheres defendendo sua prole. Acho que tua mãe deve regular comigo de idade. Bjs
Beleza de história,Socorro e fiquei grudada, quase morrendo de medo aqui! Que coragem! Eu tenho pavor de cobras, morro de medo! Adorei te ler ,mais uma vez! beijos,chica e lindo dia!
Eu me senti sentada na cama, mãe é sempre uma heroina né, gosto da realidade das tuas palavras. to sem teclado. adorei tua visita a Bernadete. beijos Eiane.
Tua mãe é muito corajosa!! A história que contas é cheia de coragem!! Adorei saber isso. Muitos beijinhos e boa quinta-feira,fica na paz de deus!!
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