Não me lembro de ter me alegrado com a chegada de alguém, tanto quanto a dela. Na verdade, todas as suas chegadas, eram inéditas.
Ressurge à minha mente, de forma
bastante nítida, a cena que por tantas vezes eu vi: ela despontando no começo
da rua, caminhando lentamente e a passos miúdos.
Trazia na cabeça uma sacola, e
uma outra na mão. Até hoje não sei como conseguia manter o equilíbrio, dado que
a sacola da cabeça era bem pesada. E não sei qual era o segredo para caber tanta
coisa naquelas sacolas.
Esgueirava-se pelas calçadas,
sempre procurando o lado da sombra.
Quando meus olhos a avistavam,
todo o meu ser virava uma festa. Pulava e corria de contentamento, e muitas
vezes passei pela janela de casa, para ir ao seu encontro. Pegava a bagagem que ela
trazia na mão, e seguia à sua frente, eufórica, arrastando, literalmente, a
sacola, que parecia enorme, devido a minha pouca idade e constituição física.
Quando ela adentrava as portas da
minha casa era como se o próprio Deus, em pessoa, tivesse nos dado a honra de
nos visitar.
Corríamos, meu irmão e eu, a
mexer nas sacolas, a procura dos presentes: as guloseimas que ela nos trazia.
Nada tinha de luxo nos seus presentes. As mais das vezes eram frutas: mangas,
jabuticabas, e outras, que ela colhia do seu próprio roçado.
Ficava conosco o fim de semana, e
durante todo esse tempo, não saíamos da sua presença, esquecíamos das
brincadeiras, porque nada era tão agradável quanto os seus afagos.
Quando chegava a segunda-feira,
era terrível, nunca nos acostumamos a isso, ela partia, e levava consigo nossos
corações. Chorávamos por um bom tempo, na esperança de assim trazê-la de volta. Mas ela partia, e quando menos esperávamos, voltava, despontando lá na esquina, no começo da rua.
Fui crescendo, tornei-me adolescente, depois jovem, mas, por muito tempo essa cena se refez. A emoção era sempre a mesma.
Fui crescendo, tornei-me adolescente, depois jovem, mas, por muito tempo essa cena se refez. A emoção era sempre a mesma.
Que saudades da minha avozinha
querida! Um dia ela se foi e não voltou nunca mais.
Por Socorro Melo
8 comentários:
Tão lindas e doces lembranças e recordações.Assim é legal! beijos,chica
À quanto tempo! Saudades de passar por aqui.
Abraço
Linda lembranças , mais linda ainda seu jeito de escrever
bjs
Olá, querida Socorro
Hoje passo pra convidar-lhe pra IV Semana de Meditação Virtual que está acontecendo aqui:
http://www.idade-espiritual.com.br/2013/11/iv-semana-de-meditacao-vitual.html#comment-form
Vc já esteve nos outros anos e foi muito bom tê-la conosco!!!
Seja muito abençoada e feliz!!!
Bjm de paz e bem
P.S. A minha avó era uma mãe pra mim também... saudade dela me deu agora pelo seu post tão carinhoso...
Momentos unicos devem ter sido passados com a tua avozinha,ela deve tar contente lá no ceu por tu te recordares dela com tanto carinho. Eu tenho ainda as duas vivas mas dou-me muito melhor com uma do que com a outra,talvez seja por ter uma a viver na minha casa e a outra morar um bocadinho distante. Beijinhos e uma boa quinta-feira!!
Assim é a vida deixando doces lembranças para recordar...
Um abraço,
Élys.
Lindas suas lembranças.Avós são pedras preciosas que ficam para sempre em nossas lembranças.
bjs
Lendo seu texto lembrei de minha Avó que vinha uma vez por ano e ficava uma semana costurando. o contentamento era tamanho que mais nada existia naquela semana. tive a sorte de ja ser mulher feita quando ela se foi e pude devolver todo amor que ela nos trazia.
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