Pegadas de Jesus

Pegadas de Jesus

sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

OLHA NOS MEUS OLHOS

Certa feita participei de um grande Seminário, na área de Recursos Humanos. E uma das oficinas, trabalhada por uma famosa psicóloga, foi muito marcante. Primeiro, pela desenvoltura com que ela conduzia os trabalhos, e segundo, porque parecia que ela dizia tudo o que queríamos ouvir, ou que precisávamos ouvir. Ela era agradável, atenciosa, e tinha uma larga experiência profissional.

E num dado momento, anunciou que faria conosco uma dinâmica de grupo. Ficamos entre apreensivos e curiosos, pois, quem é da área de Recursos Humanos, conhece um pouco os métodos de trabalho dos psicólogos, que por vezes, são bizarros.

Posicionamo-nos, conforme ela nos orientou, de dois em dois, um defronte pro outro, e segurando nas mãos, como se fossemos dançar a famosa peneirinha das quadrilhas matutas do Nordeste. Nesse ponto já estávamos rindo muito, e nos balançando, a exemplo da dança acima citada.

A instrutora pediu silêncio e atenção, e vendo que já estávamos posicionados, enunciou o procedimento da dinâmica, que era o seguinte: deveríamos nos manter sérios, e durante um tempo determinado por ela, que não era muito, nos olharmos nos olhos uns dos outros... E segurar o olhar.

Parecia tão simples, mais não foi. Até então, ríamos e brincávamos, e estávamos à vontade, porém, a partir do momento em que tentamos cumprir nossa tarefa, a coisa se complicou. Todos nós tivemos dificuldades de olharmo-nos nos olhos uns dos outros.

Uns riam muito, outros se curvavam, alguns tentavam e quando parecia que ia dar certo explodiam, e muitos declararam que não conseguiriam. A psicóloga insistiu, e não arredou o pé, até que nos enfileirássemos de novo, pois já havíamos tumultuado o ambiente.

Recomeçamos do zero. E dessa vez tensos, apreensivos...  Fomos de novo orientados, e aos poucos, um grande silêncio se fez na sala, quebrado apenas por alguns
abafados sorrisinhos. E dali a instantes, olhando-nos nos olhos, por frações de segundos, pois era tudo que conseguíamos, via-se torrentes de lágrimas brotarem de todos os olhos...

Por que este ato nos fragiliza tanto? Por que é tão difícil olhar nos olhos de outra pessoa? A sensação de encarar o outro face a face, e sustentar o seu olhar, é a mesma de nos despir diante de alguém. É como se o outro pudesse descobrir, através dos nossos olhos, todos os nossos segredos, como se nossa alma estivesse desnuda, como se o nosso maior tesouro estivesse à mostra.

Um ditado popular diz que ”os olhos, são o espelho da alma”, e é bem pertinente essa imagem. Ao olharmos nos olhos de outra pessoa, entregamo-nos. É um gesto muito forte, diante do qual, parece que mostramos nossa verdadeira identidade, nossas intenções, e fantasias.

E só vamos conseguir olhar, de fato, nos olhos de quem amamos, ou de quem nos ama, pois ali encontramos aconchego. Sabemos que quem nos ama, de verdade, não nos julga, e nos aceita como somos, com nossas imperfeições.

Quando o nosso olhar se cruza com o de alguém, que não é nosso afeto, a tendência é desviarmos. É como se estivéssemos invadindo uma propriedade alheia, ou sendo invadidos.

E assim, no fim dos trabalhos, olhando-nos desconfiados uns para os outros, nos abraçamos, e guardamos conosco, cada um, o instante mágico daquela viagem, em que navegamos para dentro da alma de nossos colegas, e colhemos um pouco da sensibilidade, que por tantos é guardada a sete chaves. E foi muito rica a conclusão dessa atividade. Foi há muito tempo.

(Socorro Melo)



3 comentários:

Toninho disse...

Olá Socorro, muito interessante esta postagem com a devida reflexão.
Já participei de trabalhos assim e são proveitosos mesmos.
Este olhar nos olhos é bem parecido mesmo com este desvestir-se.
Há no olhar algo que aprofunda quando se consegue pousar no outro olhar.
Realmente uma viagem.
Uma bela semana de paz e alegrias neste preparar para o Natal de solidariedade.
Meu carinhoso abraço amiga.

Roselia Bezerra disse...

Olá, querida Socorro
Já estive em dinâmicas assim e valeu-me muitíssimo! Faz bem ao coração da gente olhar no olho do outro e nós, mutias vezes, fugimos disso...
Bjm fraterno

Toninho disse...

Ola Socorro, em tempo venho lhe desejar um Feliz Natal de paz e muita luz à todos seus familiares.
Agradeço a companhia neste 2015 e será um prazer estar por aqui em mais um novo ano.
Meu carinhoso abraço de paz.