Esta é a história de Dadinha, uma amiga de infância. A garota nem parecia gente, de tão travessa que era. Vivia aprontando. Conheci Dadinha quando eu tinha doze anos, e vivemos bons e alegres momentos. Eu era aquela que conciliava os estragos que ela fazia, e muitas vezes ela aprontava comigo também. Nunca gostou de estudar. Aos dezesseis anos nos separamos por que mudei para outro bairro, e ela, pouco tempo depois, foi morar em São Paulo. Nos perdemos de vista por muitos anos. Depois nos reencontramos, e foi dela a iniciativa de se aproximar, pois, eu nem sabia que ela havia voltado. A timidez passou longe de Dadinha, e a discrição também, mas, não deixa de ser um pouco ingênua. Contou-me a sua história, do tempo que morou em São Paulo. Viveu feliz por muito tempo, trabalhou, conheceu vários lugares, e por fim adotou uma criança, mesmo sendo solteira. Teve sérios problemas vasculares, vivia sob cuidados médicos, mas, mesmo assim, não teve como evitar o momento doloroso, precisou amputar uma perna. Passou a andar apoiada em muletas e usar cadeira de rodas. Tempos depois, descobriu que tinha câncer e viveu momentos terríveis, entre a vida e a morte. Fez cirurgia, passou por um longo e doloroso processo de quimioterapia, mas, venceu, ficou curada. Agora, recentemente, fez uma nova cirurgia (mais simples). Seu sonho é conseguir uma prótese da perna. Acho incrível a sua maneira de encarar tudo isso, de forma bem natural, como se fosse simples assim. Ela mora com o filho, agora um adolescente de 13 anos, um garoto obediente, estudioso, que tem lhe proporcionado grandes alegrias. É uma exímia dona de casa, apesar das muletas e da cadeira de rodas. Cuida da casa com esmero, lava e passa roupa, prepara comida e ainda resolve seus problemas externos, no banco, nas repartições públicas, vai ao supermercado, e com muita competência consegue tocar a sua vida. Tristeza? Amargura? Revolta? Nem sombra. A mulher é madeira de lei, madeira que cupim não rói. Nunca vi tanta alegria e tanto bom humor juntos. A gente começa conversar com ela e sente uma pontinha de dó, mas, só por poucos instantes, porque com dez minutos de conversa nos sentimos pequenos e medíocres diante dela, pois, o entusiasmo e a garra vão nos prostrando para uma admiração profunda. Salve Dadinha!
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