Pegadas de Jesus

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terça-feira, 31 de maio de 2011

PRA FALAR DAS FLORES


Imagem do Google
   
     Quando despontou a alvorada, o jardineiro, de ferramentas na mão, dirigiu-se ao jardim. De longe podia sentir o perfume agradável, que era trazido pelo vento. Fechou os olhos, inspirou, expirou, e repetiu esse exercício por diversas vezes, atraindo para suas narinas o odor suave e inebriante que as flores exalavam.
     Ao aproximar-se, foi tomado por um indescritível prazer, ao olhar o sem número de flores, de diversas espécies e cores, que revestiam o espaço à sua frente, como um enorme tapete, a perder de vista.
     O jardineiro agachou-se em torno dos canteiros, e pôs-se a trabalhar, enquanto cantava, e falava com as flores:
     - Amanhã, dizia ele, terei uma tarefa difícil a realizar. Vou escolher dentre todas vocês, um lindo ramo, para presentear uma outra flor, igualmente bela.
     E quando o jardineiro se afastou, houve um alvoroço no jardim, uma grande agitação, pois, todas as flores procuraram se preparar para a escolha do dia seguinte.
     O crisântemo, considerando sua nobreza, e seu título de a flor de ouro, empertigou-se, e torceu o nariz para as demais flores, pensando que a sua semelhança com o sol nascente, iria, de fato, lhe garantir a honra da escolha.
     Já a tulipa, solitária, um pouco individualista, tremulou suas folhas alongadas e em forma de lanças, e se firmou, ereta, em sua haste – sou a mais bela! – disse.
     A hortênsia, ouvindo o burburinho existente, resolveu que também participaria desse concurso, e, venenosa como é, decidiu que empregaria suas armas. Agiria traiçoeiramente, se fosse preciso, mas antes, caprichou no cuidado com suas pétalas, tornando-as mais bonitas.
     Competição é competição - pensou o lírio - do alto dos seus quase dois metros de haste, e decidiu que o seu formato diferente, com certeza, iria lhe favorecer.
     - Ele até pode ter formato diferente, pensou a orquídea, em relação ao lírio, mas, o meu formato é bem mais intrigante, e a escolhida serei eu, não tenho dúvidas.
     A rosa vermelha, símbolo da paixão, contou a seu favor com a tradição milenar, e lembrou dos fósseis das suas antepassadas, que contam trinta e cinco milhões de anos... E se balançou satisfeita – tradição é tradição.
     Gardênia, vestida de branco, espargiu delicadas notas aromáticas, agitou as folhas verdes brilhantes, e emitindo um sorrisinho de satisfação, disse: a eleita serei eu.
     - Quem, nesse jardim, é tão especial quanto eu? - tencionava o Narciso, pois, sou o símbolo do grande herói greco-romano, Narciso, o belo, filho do deus-rio Cefiso e da ninfa Liríope.
     E assim, durante todo aquele dia, as flores se prepararam para a grande escolha, tornando o jardim ainda mais encantador, devido ao brilho, as cores, os aromas, os formatos e a magia da competição que se acirrava cada vez mais.
     No outro dia, chegando o jardineiro, alegre e sorridente, cuidou de todas as flores, e analisou detidamente cada uma, para enfim, escolher aquela que melhor se adequava ao seu propósito.
     Notou que havia algo diferente, parecia que todas estavam mais belas e perfumadas, só não entendeu o porquê.
     E depois de alguns instantes, virou-se para um dos canteiros que estava parcialmente vazio, a não ser pelas singelas margaridas, de pétalas macias e aveludadas, que o levavam a crer que sorriam, felizes da vida, vislumbrando o sol nascente, e ostentando nas pétalas suaves, gotas de diamante, resquícios do orvalho da manhã. E o jardineiro não teve mais dúvidas: são elas – pensou - o presente certo para a minha flor. E colheu o mais lindo ramo de margaridas, por entender que elas eram simples e formosas, tal qual sua amada filha, que naquele dia completara 15 anos.

***

Assim os últimos serão os primeiros, e os primeiros últimos; porque muitos são chamados, mas poucos escolhidos. Mt. 20,16


11 comentários:

Élys disse...

Um bonito texto com um diálogo que demonstra a vaidade se mostrando e a simplicidade sendo escolhida.
Um abraço.

Élys disse...

Um bonito texto que mostra um diálogo, onde se destaca a vaidade e a simplicidade sendo escolhida.
Um asbraço

Lúcia Soares disse...

Que lindo, Socorro!
Fiquei comovida em saber que as flores gostam de ser colhidas pelas mãos do jardineiro...Tenho pena de ganhar flores, justamente por pensar que elas gostam de ficar na terra, seu habitat. Mas...e agora? E se, realmente, elas sonhem com o dia de serem colhidas e entregues a alguém?
Vai saber, né? rsrsr
Beijo!

Terê. disse...

oi amiga, lindo seu blog, e lindo tbém seu texto. bju terê.

pensandoemfamilia disse...

Bonito conto onde as vaidades mostram o "ar da sua graça" e o desfecho da simplicidade inaugurando a escolha,
bjs

Leci Irene disse...

Menina, que coisa mais linda.... bom seria a gente sempre ter certeza de que somos escolhidos pelo que somos e não pelo nosso desejo de ser melhor que outros.

Leci Irene disse...

oi

Manuela Freitas disse...

Que lindo texto Socorro, está de facto delicioso e motiva reflexão!
Entre flores, todas são bonitas, das mais sofisticadas, às mais simples...A paleta do criador é um assombro!
Beijos,
Manu

Toninho disse...

Uma visita e uma bela reflexão na chegada.Gostei Socorro desta construção deste texto sobre comportamentos nesta analogia de flores.E na vida é tudo sito né?
Parabens seu texto de Perdas ficou perfeito e real bem proximo do que concebo.
Meu abraço de paz e luz.

Evanir disse...

Querida ..
Hoje você é a homenageada no meu blog ñ esqueça de dar uma chegadinha lá
na lateral esquerda do blog tem um presente para homenageados.
Um feliz final de semana beijos meus,Evanir.

orvalho do ceu disse...

Olá, querida
Estou tentando comentar e nem em todos posso entrar..
Aqui encontrei bela mensagem de verdadeiro valores...
Bjs fraternais