A menina acabara de lavar a louça, e de arrumar a cozinha, e dirigira-se ao quarto de dormir, pra repousar.
Há dias estava ali, e a saudade da mãe aumentava cada vez mais. Viera pra ajudar, e ser ajudada, pois, ali, teria oportunidade de estudar, e em troca, auxiliava a senhora nos serviços domésticos. Tinha doze anos.
A vida não fora generosa com ela. O pai havia abandonado a família, e a herança que deixou, foi uma grande miséria.
A mãe, apesar dos reveses da vida, era uma grande mulher, e decidira que seus filhos não teriam a mesma sorte que ela, e foi assim, que a despachou, pra casa de uma conhecida, na capital.
Estavam as duas sozinhas, naquela noite, ela e a senhora.
Era uma casa grande, de estilo antigo, com várias janelas.
A menina, estava tão absorta em seus pensamentos, que nem viu a senhora passar, defronte do seu quarto, rumo à cozinha , arrastando os pés, como sempre fazia. Tinha o hábito de tomar uma xícara de chá, toda noite, antes de dormir.
Quando esticou o braço pra pegar o porta retratos, com a fotografia de sua mãe, que estava exposta na cômoda à sua frente, a menina ouviu um grito agudo, e veemente, vindo da cozinha.
Com o susto, deixou cair o porta retratos, e saiu correndo, ao encontro da senhora.
Encontrou-a na sala de jantar, branca como uma vela, e sem conseguir articular uma palavra, dado o pavor em que se encontrava.
A menina, sem entender o que acontecera, correu em direção a cozinha, pra pegar um copo d’agua, mas, a senhora a segurou pela roupa, balbuciando palavras ininteligíveis.
Depois, com a ajuda da menina, respirou fundo, e disse que havia ladrão em volta da casa, tentando entrar, pois, ela havia visto a sombra da cabeça, espreitando pela janela da cozinha.
A menina sentiu seu corpo tremer, como se tivesse levado um soco, e por alguns minutos, não conseguiu raciocinar, tomada pelo medo.
As duas, após alguns instantes, pé ante pé, foram até a cozinha, e escondidas atrás de um balcão, ficaram na tocaia.
Daí a alguns instantes, a sombra se projetou, e ambas, a viram, num ir e vir constante, perscrutando de mansinho.
A senhora, apavorada, correu ao seu quarto, e de lá trouxe a arma do marido, carregada, disposta a defender suas vidas e sua casa.
Pensou estrategicamente, e disse a menina: é você quem vai atirar.
A menina, que já estava trêmula, quase desmaia com a determinação da senhora.
Mas como? eu nem sei pegar nisso.
Eu vou lhe ensinar. É ele, ou nós. Precisamos nos defender.
Mas, por que eu? Perguntou a menina. Atire a senhora mesmo.
Não. É melhor você, pois, vamos precisar depor, e a justiça é mais branda com as crianças.
A menina aceitou, confiante que a senhora sabia das coisas. Ficou espiando, sem ao menos respirar, e quando a sombra apareceu, a menina atirou, sem dó nem piedade.
O barulho da queda, em relação ao tiro, foi tão fraco, que ambas ficaram se olhando, sem conseguir entender. Esperavam que com o impacto da explosão, o corpo caísse no quintal, fazendo um grande estardalhaço.
Aguardaram alguns instantes, e depois se arriscaram a abrir a porta , pra conferir o corpo que caíra.
E pra surpresa de ambas, que tremiam nas bases, o corpo caído no quintal, que fora atingido pelo tiro certeiro da menina, nada mais era, que uma vassoura, que antes estava dependurada num varal, e que açoitada pelo vento, num constante ir e vir, projetava a sombra que tanto medo causara.
E ali, no meio do quintal, jazia uma vassoura assassinada, carbonizada.
A menina me contou, que após se recuperarem do susto, ela e a senhora, tiveram espasmos de risos, concomitantes, com espasmos de choro.
E você, já passou por algo assim???
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