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Mariah era sonhadora! Ficava horas a fio perdida em seus pensamentos... Imaginava-se em imensos castelos medievais, como uma linda princesa, de cabelos dourados, presa na torre mais alta, a espera do príncipe... Ou, se via como uma sereiazinha, encantadora, que sentava numa pedra, à beira-mar, todas as manhãs, para pentear suas negras madeixas...
Entanto, sua grande atração era as estrelas, que exerciam sobre ela um enorme fascínio. Mariah, todas as noites, debruçava-se sobre a janela e as observava, uma a uma, tantas quantas coubessem no seu campo de visão, e ficava inebriada com a beleza dos pontinhos luminosos...
Tinha doze anos, e era a filha mais velha de uma família de cinco crianças.
De uma feita, a menina percebeu um forte brilho no céu, e dirigiu seu olhar para aquela estrela, que ela considerava nova, pois nunca a havia observado. Era tão fulgente, e parecia avermelhada...
Nos dias seguintes, aquela estrela continuava lá, e parecia a Mariah, que ela se avolumava a cada dia.
A menina começou a inquietar-se com aquela estrela, que parecia estar viva, pois, ao seu ver, ela se movimentava. E toda noite a analisava com admiração e medo. A estrela se agigantava, cada vez mais, imprimindo-lhe um grande pavor.
- Será que ela vai se transformar numa bola de fogo? – pensava Mariah – E depois nos arrebatar, assim como arrebatou o profeta Elias? - Ou será que vai atear fogo à Terra?
E, o medo crescente, foi invadindo seus pensamentos, de tal sorte que já não mais conseguia apreciar as estrelas com prazer, como fazia antes, sem esbarrar naquela que ameaçava destruir o mundo.
Quando a noite chegava, Mariah deitava-se em sua pequenina cama, e dava asas à imaginação. – O que nos acontecerá, meu Deus? Qual o significado dessa estrela? Será que o mundo vai acabar? Por que tem que ser assim? Quero tanto viver mais, e aprender do mundo... Por que? Por que? Por que?
O medo de Mariah escapara do seu controle. Já não conseguia pensar em mais nada, a não ser na estrela brilhante e avermelhada. Não tinha ânimo para brincar, e denotava sinal de tristeza. Mas, ninguém sabia, que o verdadeiro motivo da tristeza de Mariah era aquela estrela, que se esparramava no céu tão ameaçadora... E ela não conseguia contar pra ninguém, era o seu grande segredo... Ninguém poderia saber que o fim estava próximo, e que aquela estrela era um disco voador, e que todos poderiam ser abduzidos e levados a outro planeta, ninguém, só ela, Mariah, deveria suportar tanta agonia. E ela sofria tanto com isso...
Sua mãe, percebendo-lhe o retraimento, começou a se preocupar. E indagou da menina, com muita delicadeza, sobre o que se passava em sua cabecinha. Percebia-a muito quieta, cabisbaixa, desanimada...
- Que ocorre, Mariah, por que tanta tristeza?
- Não é tristeza, mãe, é só... Só...
- Medo? De que? – perguntou a mãe.
- Como sabe que é medo?
- Eu conheço você, minha filha. O que lhe assusta?
- Mãe, a senhora gosta de estrelas?
- Gosto. São bonitas. Por que?
- Nada. É que elas são tão diferentes, não é?
- É sim, como as pessoas. Há estrelas grandes, pequenas, brilhantes...
- Será que existe alguma vermelha?
- Sim, existe.
- Mesmo? E elas podem crescer?
- Podem. Há um período, no tempo, quando a Terra faz um determinado movimento, que elas ficam mais próximas de nós, e parece que cresceram, diante de nossos olhos, mas, não é nada disso, é apenas a posição em que elas se encontram em relação à Terra...
Mariah, de olhos arregalados, semblante suavizado pelo alívio que começava percorrer-lhe, correu e enlaçou a mãe num abraço, beijou seu rosto, e puxou-a pela mão até à janela, e apontando para o céu, perguntou:
- Igual aquela? – E naquele momento, a estrela não parecia mais tão ameaçadora...
- Sim, igual aquela, disse a mãe, sem entender nada, mas, ao mesmo tempo, suspeitando que aquela estrela poderia ser o motivo da tristeza da menina.
E Mariah, sorridente, beijou novamente dona Júlia, dizendo:
- Mãe, você salvou o mundo! E saiu correndo para brincar na rua, coisa que há dias não fazia, com medo da estrela.
Dona Júlia, satisfeita, entendeu o drama da filha, pois, aprendera a observá-la, e sabia como era sensível, e como se deixava levar pela imaginação, que tanto podia elevá-la às alturas, quanto prostrá-la no abismo... Não salvara o mundo, mas, salvara sua doce menina, dos fantasmas que passeavam em sua mente. E da janela, vendo Mariah a correr com seus amiguinhos, e a acenar para ela, com sorriso nos lábios, pensou:
- Só mesmo amor, é capaz de salvar o mundo...