Quero ser um instrumento na mão
de Deus, decidi. Mas, que tipo de instrumento devo ser? Cada qual tem sua
funcionalidade, e preciso determinar, a que me proponho, qual será a minha
serventia, a minha missão.
Resolvi que quero levar alegria
aonde eu for, e esperança. E penso na alegria como uma explosão de cores, e na
esperança, como um verde que brilha, que sinaliza positivamente, que aconchega.
Por fim, entendi que quero ser um pincel.
O pincel é um instrumento
simples, quase imperceptível, nas mãos do pintor. Deixa-se envolver, é
flexível, e é capaz de reproduzir na tela o talento e as emoções do artista. Em
outras palavras, o pincel retrata sua alma criadora. Ele é apenas um
instrumento, sem graça, sem nenhuma engenhosidade admirável, mas que serve de
canal para que o autor realize a sua obra.
Ele dança por sobre as cores, na paleta, mergulha em cada
uma delas, escolhendo o pigmento certo para colocar luz e beleza sobre a tela,
branca e muda.
Deixa rastos por todas as
direções, mistura as cores originais, e faz surgirem outras que vão dando forma
à inspiração do artista. E por fim, depois da obra pronta, o artista é louvado
e reverenciado, porque de fato merece, porque o talento e os atributos são
seus. A obra é admirada, premiada, mas do pincel, ninguém se lembra, só o
artista, que tem por ele gratidão e amor, por sabê-lo seu instrumento, o canal
entre ele e a sua arte.
Eu quero ser um pincel, nas mãos
de Deus, o grande Criador. E como pincel, devo ser simples, humilde, discreta,
pois quem deve aparecer é o grande artista, e sua obra, não eu.
Quero espalhar sementes de paz,
ao meu redor, assim como o pincel espalha as cores por sobre a tela.
Para cada pessoa que cruzar meu
caminho, quero ser um sinal de amor, quero ser cor, quero restaurar as marcas
do mal. Quero contribuir para dissipar as nuvens cinzentas. Quero ver de volta
os sorrisos, quero ver renovadas as esperanças, e me fazer suporte para que meu
semelhante cresça, confiando que vale por si, por ser parte preciosa do acervo
de Deus, obra prima, singular, cada um, com suas particularidades, suas luzes,
suas sombras, sua riqueza, originalidade, fruto da majestosa criação de Deus.
Sim, serei um pincel. Espalharei
alegria, e darei a conhecer, com o meu serviço, com a minha vida, as obras de
amor de um Deus tão maravilhoso, que me deslumbra com sua grandeza, e me faz
feliz só de pensar que me ama, e que conta com o meu serviço, com a minha
missão, não porque precise de mim, mas porque enquanto sirvo de pincel, vai me
moldando, me transformando, e no fim, vai sorrir ante o meu enlevo, quando
finalmente eu entender, que de pincel transformou-me numa pintura de
inestimável valor.
Por Socorro Melo