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A separação é sempre dolorosa e conflitante. Vivi a angústia desse momento. Senti meus sonhos destroçados, pisoteados, jogados no lixo. Todas as palavras de amor, ditas, passaram a não significar mais nada. A sensação de perda, de rejeição, de abandono, foi terrível. Era uma dor que não dava trégua ... dormia e acordava com ela. Culpava-me pelo que acontecera, achando que poderia ter sido melhor, e ao mesmo tempo, era acometida de uma raiva intensa, e culpava o outro de ter sido responsável por tudo, de não ter valorizado o nosso amor. O processo de recuperação é lento, leva-se um tempo. É preciso despejar essa dor, confiar em Deus, compartilhar com alguém, aceitar os fatos, tocar a vida pra frente... O tempo cura tudo, e um belo dia, me descobri livre daquela dor, não doía mais, não incomodava mais, e ri de tudo que passou, e me senti leve e solta, feliz pela superação, por mais uma batalha vencida, e pela certeza de que o passado ficara no passado. Aprendi muitas lições com este momento: a de me dar o devido valor e de valorizar o outro, a de não subestimar, e acima de tudo perdoar . E com o tempo, uma nova lição, a abertura para um recomeço, uma reconciliação.
Soneto de Separação
De repente do riso fêz-se o pranto
silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fêz-se espuma
E das mãos espalmadas fêz-se o espanto.
De repente da calma fêz-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fêz-se o pressentimento
E do momento imóvel fêz-se o drama.
De repente, não mais que de repente
Fêz-se de triste o que se fêz amante
E de sozinho o que se fêz contente.
Fêz-se do amigo próximo o distante
Fêz-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.
Vinicius de Moraes, in 'O Operário em Construção'