O Boi de Biu. Já ouviu falar? Foi o menor bloco carnavalesco do
mundo. Ouvi rumores de que vai para o Guines. Torço para que seja verdade,
pois, é um tributo bem merecido, a quem foi perseverante por tantos anos, numa
terra onde o carnaval só existe na folhinha do calendário.
Com
chuva ou com sol, o Boi estava na rua, nos dias de carnaval, na cidade
“fantasma” de Belo Jardim, no Estado de Pernambuco, minha terra. Digo fantasma
porque no Carnaval, a cidade se esvazia, visto que grande parte da população se
retira, para o litoral e/ou outras localidades. Mas os poucos que ficavam,
podiam se enternecer e se distrair um pouco, vendo o bloco passar.
O bloco
era composto basicamente por Biu, seu idealizador e presidente, o Boi, a
atração principal, e um punhado de moleques das ruas por onde passava. Na
verdade eu desconfio se a atração principal era mesmo o Boi, ou se era Biu.
Biu era
uma dessas pessoas que se costuma chamar, ou rotular, de simplórias. Para mim
ele era simples. Tinha seu jeito singular de ser, jeito de gente, cheiro de
povo. Não se importava de parecer ridículo, e na verdade não era, e nem dava
atenção para as chacotas.
A cada
Carnaval, o Boi inovava. Nunca se apresentava sem uma pequena mudança, por mais
imperceptível que fosse. Era um boi colorido, cheio de brilho, cheio de vida,
da vida de Biu, que lhe imprimia alegria. A orquestra que os acompanhava se
resumia apenas num atabaque, que enchia com sua cadência as ruas por onde o
cortejo passava. Cortejo? Bem, não era assim um corteeeejo, pois houve ocasiões
em que desfilavam apenas Biu e o Boi.
Este
ano Biu se foi, fez a grande viagem. O Boi ficou órfão. Dizem que no seu leito
de morte Biu fez um pedido: que não deixassem de botar o Boi na rua... Talvez
seja chacota isso, mas, é bem próprio de Biu.
A
simplicidade encanta. E Biu encantou. Biu, e o Boi. Na terrinha, não há quem
não fale com carinho dessa dupla. Cada um sabe contar um pequeno fato ou uma
situação inusitada que aconteceu, e situações inusitadas e engraçadas era o que
não faltavam a esse bloco surpreendente. E o povo sorria e aplaudia.
Biu se
foi, o Boi ficou. Mas o Boi não existe sem Biu. O Boi foi o sonho de Biu, sua
melhor construção. Nele realizou-se e registrou sua marca na cultura do
povo. Deixou o seu exemplo de perseverança. Foi aquele que acreditou e nadou
contra a corrente sem nunca largar o sonho.
Se for
verdade, e não apenas rumor, se O Boi de Biu, o menor Bloco carnavalesco do
mundo for, de fato, para o Guines, será eternizado, e será
conhecido do mundo todo. A simplicidade encanta e surpreende.
“ Os
últimos serão os primeiros”, disse um grande sábio, que também foi simples.
Abre
alas, minha gente, abre alas que o Boi de Biu vai passar, para a história da
humanidade. Eu até posso imaginar a satisfação de Biu, o seu sorriso de
triunfo, por entender que fez a diferença por aqui, que plantou alegria, para
que tantos colhessem os frutos da saudade. Olha o Boi de Biu aí, gente!
Por
Socorro Melo