Imagem da Net (Google)
Era fim de tarde, de um dia qualquer, do mês de agosto. E uma chuva intermitente marcava aquele dia.
Seu Jorge conduzia o caminhão ao longo da rodovia estadual, rumo a cidadezinha onde morava. Na cabine, iam com ele mais duas pessoas, responsáveis pela encomenda que se encontrava na carroceria.
Divisou, lá na frente, à beira da estrada, um homem que acenava. Apertou um pouco os olhos, para enxergar melhor, e reconheceu Silas. Reduziu a velocidade e parou. Habituara-se a oferecer carona, para os que encontrava pela estrada, a maioria, pessoas que iam ou retornavam do trabalho.
- Bom dia, Silas!
- Bão dia, seu Joge!
- Se não se incomodar, com a mercadoria que vai aí na carroceria, pode subir.
Silas averiguou, piscou os olhos, sorriu, e disse:
- Ôxente, seu Joge, me incomodo não! Vamo simbora!
Subiu na carroceria do caminhão, e sentou ao lado da encomenda, ou mercadoria, de que seu Jorge falara: era uma urna funerária. Instantes depois, a chuva recomeçou.
Mais adiante, outras pessoas acenaram, e seu Jorge prontamente parou, para que elas subissem. Não mais falou sobre a “encomenda”, pois Silas já estava lá, e não via necessidade.
Entre as pessoas que pegaram carona, havia um deficiente físico. E seu Jorge, pacientemente, esperou que os outros o ajudassem a subir.
O caminhão deslizava tranqüilamente pela pista molhada, e a chuvinha teimosa, não parava de cair.
Porém, uns cinco quilômetros depois, a chuva cessou, e um sol maravilhoso iluminou o mundo com seus raios dourados. E apesar da imprevisibilidade, a temperatura aumentou.
De repente, seu Jorge ouviu um grande alarido na carroceria, e batidas fortes se sucederam na parte de trás da cabine. Meneou a cabeça, assustado, e viu que as pessoas tentavam pular da carroceria, com o carro em movimento. Até o deficiente, que tivera tanta dificuldade para subir, já estava pronto para pular. Parou bruscamente, sem entender o motivo daquele rebuliço.
Quando desceu da cabine, junto com os dois passageiros que vinham com ele, percebeu que todos já estavam no chão, inclusive o deficiente, como num passe de mágica. Menos Silas.
Ficou boquiaberto, olhando estarrecido para os rostos apavorados que o encaravam, mudos, quando ouviu a voz de Silas, que ainda se encontrava na carroceria do caminhão.
- Disculpi, seu Joge, eu não fiz por má.
- O que aconteceu Silas?
- É que quando eu subi, começô a chuver, e eu entrei no caxão pá me potreger da chuva. Só dispois é que as pessoa subiro no caminhão, e não sabia que eu tava lá dentro. O sol apareceu, começou a esquentar, e resorvi sair... E quando levantei a tampa, as pessoa se assustaro e desataro a gritar e a correr...
Seu Jorge, ainda trêmulo, oscilando entre o medo, a raiva, e a vontade de rir, cobriu o rosto com as mãos, e balançou a cabeça, dizendo:
- Silas, Silas! Alguém poderia ter se machucado seriamente. Felizmente não aconteceu nada de grave.
- Intonce num sei? disculpi seu Joge!
Quando Silas desceu, desconcertado, com um sorriso amarelo estampado no rosto, o deficiente correu ao seu encontro e o esmurrou repetidas vezes...
Todos, ao mesmo tempo, desataram a rir, e a recapitular o episódio, imitando-se mutuamente. Riram tanto que chegaram às lágrimas, e cada um, ao seu modo, repassou essa história, que ficou conhecida na região, e Silas, conseqüentemente, passou a ser chamado de morto-vivo.
E pra concluir, não sabe-se até hoje, como é que o deficiente conseguiu descer do caminhão sozinho, e com tanta eficiência. :o)
OBS: Baseado em fatos reais.