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Acordei
sobressaltada, um pouco trêmula, coração
apertado, e com uma sensação de medo,
por causa do sonho. Parecera tão real, e isso era o que mais amedrontava . Eu
vira meu filho, numa cadeira de rodas, paralisado, com um semblante triste,
pesado. Ele vestia uma camisa de time de futebol, listrada, de azul e branco.
Deixei-me
ficar por alguns instantes pensando naquilo, imaginando o que poderia
significar. Tínhamos uma viagem programada para dali a poucos dias, íamos ver a
neve, e aquele sonho me assustara.
Afastei
dos meus pensamentos aquela imagem, fora apenas um sonho, na verdade um
pesadelo. Mas, vez por outra aquilo me
incomodava.
Chegou
o dia da viagem e com ele os preparativos, as expectativas, as providências a
serem tomadas. Tudo ocorreu de forma tranquila, e lá fomos nós. Vivemos momentos inesquecíveis, de uma viagem encantadora. Regressamos
em paz.
Na chegada, um grande
contraste, uma notícia triste que se sobrepôs a toda euforia da experiência
maravilhosa que tínhamos vivido: meu irmão estava gravemente doente. Tudo se
passara tão rápido que mal dava para acreditar. Senti-me arrancada pela raiz.
Não ousei descansar da viagem,pois, não havia tempo para isso, nem clima. Fui
ao encontro do meu irmão,que se encontrava hospitalizado.
Atravessei os
corredores do Hospital muito tensa. Sentia-me mal em pensar que enquanto eu me
divertia ele lutava pela vida. Mas, eu não sabia, e não poderia imaginar que algo tão grave
estivesse acontecendo com ele.
Quando assomei à porta
da enfermaria ele estava bem à frente, já desfigurado por causa da doença.
Estava sentado numa cadeira, imóvel, parecia paralisado, com um semblante
triste, carregado de sofrimento, e vestia uma camisa de time de futebol,
listrada, de azul e branco, tal como eu sonhara dias atrás. Porém, eu não
lembrei-me disso naquela hora.
Na noite seguinte dormi
muito mal. Eu só pensava nele. Não sei se por causa do sofrimento ou da tensão,
tive um outro sonho, que tanto quanto o primeiro, me deixaram pensativa.
De novo eu via meu
filho, no que parecia ser um quarto ou sala não muito grande, com as paredes
pintadas de branco, e sem teto. Não havia janelas nem portas naquele lugar, e
as paredes eram muito altas. E ele circulava naquele quadrado, e batia com os
punhos e as mãos nas paredes, na tentativa de sair dali, quando depois de um
tempo que me pareceu enorme, dois braços se estenderam por cima da parede, e o
puxaram para fora, libertando-o daquela prisão. Suspirei aliviada. Eu era uma
expectadora,mas, é estranho, eu não sabia de onde eu olhava tudo aquilo.
A situação do meu irmão
se agravou muito, e foi necessário submetê-lo a uma delicada cirurgia. Após,
ele entrou em coma, e ficou entubado por três dias, depois foi a óbito.
Enquanto ele estava em
coma eu o visitei. Fiquei ali parada diante dele, sem saber que dizer, ou que
fazer. Não dava para acreditar que um homem tão jovem, tão forte, estivesse
naquela condição tão deprimente. Ele estava ali, e não estava. Afaguei os seus
cabelos enquanto fazia uma prece, e apesar de tudo, de todos aqueles tubos,
aparelhos, me parecia sereno, tão diferente daquele semblante cadavérico e agoniado
que eu vira dois dias atrás.
Ele estava ali, mas não
estava. Estava preso dentro de si mesmo. Não partira ainda, mas também não se
comunicava com o mundo exterior, e me veio à lembrança aquele recinto de
paredes brancas, sem teto, que eu havia visto no meu sonho. Sabia que ele
estava travando uma luta interior, tentando se libertar. Três dias depois,
partiu. Penso que aqueles braços fortes, que vi no meu sonho, o resgataram de
dentro daquela prisão, e como cristã, sei que Deus o fez.
Isto é apenas uma
reflexão, sobre os meus sonhos, que foram tão reais. O que aconteceu de fato?
Teriam sido um aviso, uma premonição? Ou, tudo não passou de grande
coincidência? Será que a fronteira entre essa vida física e a espiritual é tão
próxima assim? Será que a fé e a sensibilidade para as coisas espirituais nos
preparam para momentos impactantes, de perda? Não sei. Só posso dizer que
durante todo esse tempo estive no controle de minhas emoções, e de que não sou
dada a especulações sobre assuntos que desconheço.
Porém, creio, que:
“Há mais mistérios entre o céu e a
terra do que possa imaginar a nossa vã filosofia” (Shakespeare).