Não me lembro de ter me alegrado com a chegada de alguém, tanto quanto a dela. Na verdade, todas as suas chegadas, eram inéditas.
Ressurge à minha mente, de forma
bastante nítida, a cena que por tantas vezes eu vi: ela despontando no começo
da rua, caminhando lentamente e a passos miúdos.
Trazia na cabeça uma sacola, e
uma outra na mão. Até hoje não sei como conseguia manter o equilíbrio, dado que
a sacola da cabeça era bem pesada. E não sei qual era o segredo para caber tanta
coisa naquelas sacolas.
Esgueirava-se pelas calçadas,
sempre procurando o lado da sombra.
Quando meus olhos a avistavam,
todo o meu ser virava uma festa. Pulava e corria de contentamento, e muitas
vezes passei pela janela de casa, para ir ao seu encontro. Pegava a bagagem que ela
trazia na mão, e seguia à sua frente, eufórica, arrastando, literalmente, a
sacola, que parecia enorme, devido a minha pouca idade e constituição física.
Quando ela adentrava as portas da
minha casa era como se o próprio Deus, em pessoa, tivesse nos dado a honra de
nos visitar.
Corríamos, meu irmão e eu, a
mexer nas sacolas, a procura dos presentes: as guloseimas que ela nos trazia.
Nada tinha de luxo nos seus presentes. As mais das vezes eram frutas: mangas,
jabuticabas, e outras, que ela colhia do seu próprio roçado.
Ficava conosco o fim de semana, e
durante todo esse tempo, não saíamos da sua presença, esquecíamos das
brincadeiras, porque nada era tão agradável quanto os seus afagos.
Quando chegava a segunda-feira,
era terrível, nunca nos acostumamos a isso, ela partia, e levava consigo nossos
corações. Chorávamos por um bom tempo, na esperança de assim trazê-la de volta. Mas ela partia, e quando menos esperávamos, voltava, despontando lá na esquina, no começo da rua.
Fui crescendo, tornei-me adolescente, depois jovem, mas, por muito tempo essa cena se refez. A emoção era sempre a mesma.
Fui crescendo, tornei-me adolescente, depois jovem, mas, por muito tempo essa cena se refez. A emoção era sempre a mesma.
Que saudades da minha avozinha
querida! Um dia ela se foi e não voltou nunca mais.
Por Socorro Melo