Imagem da Net
Um dia nos encontramos, em um
imenso jardim. E era primavera. Você por mim se encantou, e juntos, traçamos
lindos planos de voo. E voamos, em direção ao infinito.
Empreendemos a
caminhada. Partimos com alegria, com entusiasmo, definimos a meta, e nos
comprometemos a superar o calor, o frio, a fome, os insetos, e tudo mais que
encontrássemos pelo caminho...
Depois me vi
sozinha. Você se deslumbrou no meio da estrada, e enveredou por atalhos, talvez
impressionado com novas cores, ou quem sabe, com novas flores, e me deixou
prosseguir sozinha, com o coração dilacerado pelo medo, pela tristeza, mas
especialmente, pelo desencanto e pela solidão.
Vi minhas
ilusões esmaecerem. Esvaíram-se como nuvens, que se dissipam no céu. Perdi as
cores. Perdi as asas. Chorei todas as lágrimas, e delas me alimentei por dias
sem fim...
A estrada
tornou-se íngreme. Vieram subidas, descidas, precipitações. Por vezes o frio da
saudade e da desilusão me prostrou, mas, firmei os pés na caminhada, confiante
de que o calor da minha fé iria me conduzir ao meu destino. Destino? Que
destino? Eu só via a estrada sem fim, desenrolar-se diante dos meus olhos, que
tristes, a seguiam sem vacilar.
E onde estava
você, nos meus dias de inverno? Por certo se inebriando, no doce néctar das
flores. Você vivia a primavera. Você sempre optou pela primavera, como os
beija-flores.
E eu, senti o
frio do desprezo gelar meus ossos. Enxuguei do meu rosto, tantas vezes, o suor,
as lágrimas, que misturadas com a chuva fina do meu inverno, disfarçavam a
melancolia que eu carregava na alma.
Caminhei
lentamente, com os olhos perdidos no horizonte. Segurei-me em braços e
abraços... E numa bela manhã, a estrada, serpenteada de flores silvestres, foi
tornando-se mais bela, pois rebentavam a cada novo olhar, brotos de esperança.
O peso dos meus
sonhos desfeitos, e dos castelos que desmoronaram no ar, tornou-se mais leve.
Eu via luz no fim da estrada. E caminhar passou a ser um deleite, porque eu
apreciava minha própria companhia. E finalmente estava liberta. As asas se
renovaram. E via com alegria o sol se derramar sobre as encostas, e sobre as
escarpas, e um céu azul sem nuvens, lavado, se estender pela vasta imensidão.
E a vida
renascia em cada flor, em cada novo cheiro, até mesmo nos arbustos e cactos, e
na correnteza que me ensinava que tudo passa e que tudo deve seguir seu
caminho, que tudo se transforma, que nada permanece igual, assim como os novos
sentimentos de libertação, e de vitória, que se aninharam em meu renovado
coração.
E quando eu vivia
a primavera, quando todos os botões e flores me sorriam, e prometiam-me a
docilidades dos frutos, eis que você volta, e por um atalho da vida, invade
minha estação, cheio de promessas.
E assim eu o vi,
com um novo olhar. E entendi que o atalho não lhe rendeu tanto mel, e que em
suas asas, havia apenas as marcas da poeira da estrada.
E agora a
estrada, que se fazia nova para mim, também se abria em possibilidades inúmeras
à sua frente.
Já é outono, e precisamos colher os
frutos. Vamos continuar nossa caminhada. Nosso ritmo é sempre diferente. Você
sempre se adianta, ou se atrasa... É preciso acertar o passo, pois os frutos
estão maduros, e não podemos perdê-los.
Não podemos
retardar a caminhada. Não vamos reduzir os passos. Os frutos estão maduros. Logo
se fará noite, e à noite, já terei saído do caminho, já terei atingido a minha
meta. Mas, quero chegar à minha noite, com um cesto repleto de frutos: maduros
e doces.
Da minha bagagem, de tristezas e
decepções, quando o coração árido e maltratado pulsava soluçando, levo apenas a
lembrança, pois, hoje, carrego comigo a certeza de que nem os ventos, nem a
tempestade, são capazes de arrancar o meu amor pela vida, e o meu entusiasmo de
buscar a cada novo dia, em cada curva da estrada, o refrigério que só encontro
no regaço de Deus.