Era só um menino. Um menino sírio...
Uma
das imagens que mais me emocionou, nesses dias, foi a de um menino sírio,
gravemente ferido, que antes de morrer disse, resoluto: eu vou contar tudo a Deus...
Sim,
menino, conte tudo mesmo, conte o que os homens tem feito de nossa terra, o
quanto a tem destruído, e o quanto tem desrespeitado a criação movidos por uma
cobiça insana e uma sede desvairada de poder...
Conte
que toda a riqueza se concentra nas mãos de poucos, enquanto milhares de milhares são excluídos das sociedades, tratados como lixo, descartados...
Conte
como morrem de fome e o quanto são violentadas e arrancadas a esperança e a
inocência de tantas crianças assim como você...
Conte
o quanto, pela força, os malvados escravizam os mais fracos...
Conte
o quanto é ridicularizado o homem justo, honesto, o homem de paz...
Conte,
como barbaramente são mortos tantos cristãos, simplesmente porque se propuseram a seguir o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo, a fazer o bem e a viver o amor...
Conte,
o quanto se corrompem, se animalizam, o quanto mentem, o quanto jogam na lama a
dignidade de filhos de Deus, que por Ele foi dada a cada um...
Conte,
conte mesmo, conte tudo... Deus é amigo das crianças e vai lhe ouvir, e quando lhe aprouver, vai por um fim nesta balbúrdia. Ele vai gostar de saber o que acontece
por aqui...
Você,
como tantos outros meninos do mundo inteiro: africanos, iraquianos, latinos, foram e são
violentamente feridos, abusados, invadidos, escravizados, assassinados...
Vocês, só meninos...
Eles
mataram o seu corpo, mas, não podem matar a sua Alma. Voa para Deus, voa ao encontro da eternidade, da segurança e da paz, e nunca mais se assuste com o clarão das armas, elas não mais lhe atingirão... Agora você está seguro e a única visão de luz que terá será o brilho do próprio Deus, o brilho da luz que não se apaga...
Conte tudo para Deus, e não esqueça de interceder por tantos outros meninos e meninas
que continuam chorando, amedrontados, sonhando com um refúgio seguro e com a
liberdade, com o direito de brincar, de ir à escola, de serem felizes no seio de suas famílias.
Conte, conte mesmo, conte tudo...
À
você, dedico este singelo texto e minhas orações.
(Socorro Melo)