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Vinha eu caminhando pela imensa avenida, a passos largos, sob o sol escaldante do meio dia, quando o texto, subitamente, começou a se formar em minha mente. Tentei afastar o pensamento, pois aquela não era uma hora apropriada para me deixar tocar pela inspiração. Todavia, ele se fazia mais nítido, e as frases e orações iam se sucedendo, e se encaixando no contexto: parecia que jorravam de uma fonte, e eu não conseguia estancar.
Fiquei pensando: Que sede insaciável de escrever! Quando estou alegre, triste, animada, desiludida, agradecida, realizada: escrevo. Tudo me instiga a escrever, como se o fato de deixar solto um episódio, fizesse-o desaparecer da minha história.
Estou sempre antenada, de mente aguçada, à procura de inspiração. E inspira-me, a beleza, tanto quanto a indignação, a injustiça, o espanto, o por vir...
Entendo que escrever é uma arte, ou um dom, vez que como todo e qualquer artista, vamos modelando nosso pensamento, plasmando nosso trabalho, pincelando com carinho, com cuidado, juntando letras, sílabas e palavras, formando orações, parágrafos, textos, até formar a obra, singular, que deixa transparecer um pouco de tudo que somos interiormente.
Nos desnudamos, e deixamos entrever as nuances, ora intensas, ora anuviadas, e através deles, dos nossos artigos, retratamos a nossa alma.
Doce vício, o de escrever! Desde a mais tenra idade aponho no papel as minhas aflições, os meus desesperos, as minhas utopias, na esperança de que ao vê-los registrados, eles se transformem em suaves momentos de paz, de realizações, de topias...
Talvez os meus singelos escritos, não tenham esse poder transformador, que não transformem nada, mas, são bálsamos para o meu eu interior, e me fazem desabrochar, e aflorar para a vida.
Escrevendo, me imponho, me faço presente, participante, grito contra as injustiças, as desigualdades, a dureza dos corações, e ressalto a nobreza da vida, e da natureza, e testemunho a minha fé.
A vida é minha grande fonte, por isso sou tão insaciável, pois, quanto mais escrevo, mais ela me mostra o quanto tenho ainda que aprender, escrevendo. Canto à vida, à sabedoria, ao amor, na esperança de me preencher, mas, é grande a minha sede, e inesgotável o poço do conhecimento.
Parece que carrego na alma uma lacuna maior que o mundo, ou que carrego o próprio mundo dentro de mim... Alço vôos imensuráveis pelo grande infinito, na esperança de me sentir plena, mas, cada dia apercebe-me de que, como o espaço, também sou infinita, de possibilidades...
Somente escrevendo, alivio esta inquietude, esta vontade de abarcar o mundo, de querer entendê-lo.
Há momentos em que me sinto um grão de areia, uma pluma que flutua nas asas do vento, entanto, a voz que me fala do interior, me garante que carrego comigo a perfeição, a coroa da criação, a obra prima de Deus.
Sou, portanto, filha de Deus, filha do Universo... Irmã das florestas, da passarada, dos mananciais... Sou transcendental! Por isso, essa sede insaciável de infinito, que só se suaviza, quando escrevo, dado que exteriorizo as minhas múltiplas e complexas aspirações.
Por Socorro Melo