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Dona Josefa foi uma grande mulher, apesar da sua compleição franzina. Parecia frágil, mas não era. Passou por grandes adversidades, muitas privações, situações inusitadas, mas, tinha fibra, e fé, e nunca desanimou. Sua vida foi pautada na simplicidade, na generosidade, e no amor ao próximo.
Que saudades de dona Josefa! Fecho os olhos e imagino-a naquele imenso terreiro, a espalhar milho para as suas galinhas, numa atividade tão rotineira, mas, que lhe parecia tão agradável. Chamava-as pelos nomes, quando alguma se atrasava para a refeição.
Gostava de vê-la na pequena horta, que havia por trás de sua casa, a colher hortaliças fresquinhas. Ela mexia na terra com tanto carinho, revirando os canteiros verdes, que exalavam um cheiro tão bom. Ficava tão bem naquele quadro, pois, ela era pura natureza.
Foi agricultora, e cultivou tantas espécies, de raízes, de grãos, de flores, e de frutos, que me pareciam ter um sabor especial, porque eram frutos do trabalho de suas mãos calejadas, e do esforço da labuta, muitas vezes sob sol escaldante.
Impossível falar sobre ela sem chorar de saudade. Meu anjo protetor.
Os momentos vividos ao seu lado foram inesquecíveis. Quanta paciência e doçura, e quanta cumplicidade, para encobrir as travessuras que aprontávamos.
Sua casa era o melhor lugar do mundo, o mais acolhedor. Lá, podíamos brincar e pular em cima da cama, espalhar brinquedos por todos os recantos, e remexer na mala grande, que nos parecia um baú de tesouros, e que sempre tinha uma novidade.
O seu fogão de lenha, de faíscas crepitantes, que nos lembravam os fogos de artifício, e sobre o qual panelas de barro fumegavam, era uma grande atração. Fomos, nós crianças, enxotadas da cozinha, inúmeras vezes, para não sofrermos qualquer acidente, e aguardávamos à porta, as gostosuras que ela nos preparava. Nunca ralhou conosco, ao contrário, sempre foi de uma meiguice sem tamanho.
Ah, dona Josefa! Que saudade dos seus bolos de mandioca, das pipocas feitas na panela de barro, da galinha à cabidela que nunca encontrei outra igual, e dos passeios na roça, onde podíamos subir e comer frutas no pé, aquelas mangas e jabuticabas tão doces e saborosas, e nem nos preocupávamos de lavar as mãos, pois, isso era coisa do futuro.
Mas, um triste dia, fez a viagem sem volta, deixando um lugar vazio em nossas vidas, que é insubstituível, e uma saudade danada que não passa nunca, bem como a certeza de que a morte não destrói o amor, pois, a amamos tanto quanto a amávamos antes.
À minha querida avó, dona Josefa, que nos deixou há 26 anos, mas que continua viva e amada em nossos pensamentos.