Muito grata, Norma, pelo convite, e parabéns pelo Blog que tem uma proposta
bonita e digna, de compromisso com a família. Eis a minha história...
Eu tinha 20 anos. Participava do Rotaract, o clube de
jovens do Rotary Club, da minha cidade Belo Jardim, em Pernambuco.
Naquela ocasião nós, do Rotaract Club, iríamos participar
de uma Convenção Distrital que aconteceria na cidade de Patos, na Paraíba.
Eu não conhecia Patos, e estava animadíssima para esse
evento, tanto por conhecer a cidade, quanto pelas expectativas do encontro,
pois, tudo era novidade, eu apenas começara a descobrir o mundo.
Chegou o dia, e lá fomos nós.
Na véspera da viagem, as meninas do grupo, dormimos na casa da nossa amiga Júlia, de
onde sairíamos pela madrugada, junto com os rapazes, rumo ao nosso destino. Na
verdade nem conseguimos dormir, de tanta emoção. Rimos e conversamos muito, e
às três da manhã, partimos.
Seguimos pela BR 232 em direção ao sertão de Pernambuco,
para num determinado ponto, entrar na Paraíba, só que tomamos um atalho, para
ganhar tempo, e ao invés disso nos perdemos, e rodamos por muito tempo sem se
quer ver uma vivalma e sem ter noção de onde estávamos. Era o tempo da Copa do
mundo de 1982, da Espanha, e depois de rodar tanto sem saída achávamos que não
tardaria para que Madri aparecesse à nossa frente. Brincávamos para manter a
calma, pois, já começávamos a nos preocupar com a possível falta de
combustível. Depois de muito tempo, chegamos à estrada principal, a BR.
A hora já estava avançada, e talvez não conseguíssemos
chegar para abertura do evento, onde deveríamos nos apresentar. Prosseguimos
animados. Em Monteiro, na Paraíba, quando o sol já estava alto, o carro se
chocou com uma coluna de ferro e cimento. Por sorte não nos ferimos, mas, o
susto foi grande, e ainda perdemos um pouco mais de tempo tentando nos
desvencilhar dos policiais rodoviários que faziam inúmeras perguntas e
tencionavam segurar o carro que ficara um pouco amassado, entanto, com nosso
tradicional jeitinho brasileiro conseguimos convencê-los, era só um amassadinho
de nada. E lá fomos nós cortando o sertão da Paraíba.
Chegamos tarde, cansados e com muita fome. Perdemos a
abertura do evento e o café da manhã. Porém, o encontro estava animadíssimo,
com muitos jovens, muitas atividades, música, bandeiras, cores, coreografias,
etc.
Passados os momentos de contrariedade, tudo se
normalizou. Fomos alojados, almoçamos, descansamos e à tarde voltamos para a
plenária. Foi o primeiro evento de grande porte que eu participei. Fiquei um
pouco deslumbrada com tudo. Nunca viajara para tão longe... Nunca participara
de um encontro com tanta gente, com
jovens de várias cidades, de quatro estados diferentes... Nunca havia escutado palestrantes tão bons e
tão dinâmicos, além dos meus professores... Eram tantas as atividades, as
brincadeiras, as dinâmicas, os jogos, que o tempo parecia voar... E houve um
campeonato de futebol de salão, e o nosso time masculino foi chegando de
mansinho, e se classificando. Era um timizinho fraco, sem perspectiva, mas, na
noite daquele sábado se tornou um gigante e se
classificou para a grande final na manhã seguinte. Tinha vencido outros
mais expressivos, mais agressivos, e conseguiu se impor e sonhar com a taça
daquela Convenção.
E para coroar àquele dia, ainda faltava algo acontecer: à
noite, acordei com muito barulho no alojamento feminino, e um entra e sai de
mulheres correndo pro WC, e mesma coisa acontecendo com os garotos no
alojamento masculino. As filas dos sanitários eram quilométricas, pois, alguma
coisa estragada no jantar, havia causado toda aquela confusão, que ainda assim,
tornara-se ocasião de divertimento para os jovens. Fui dos poucos que escaparam
desse vexame.
Dia seguinte, domingo, último dia da Convenção, entre
outras coisas, eu estava ansiosa para o jogo. Torci muito pelo meu time,
incentivei, pulei e gritei na arquibancada, e quando menos se espera, meu time
sofre um pênalti, e aí foi o nosso fim. Amargamos o segundo lugar.
Fiquei amuada, como
dizemos aqui no Nordeste. Triste demais. Zangada com os meninos. Indignada com
aquela perda irresponsável. E aí, sentei-me em algum lugar perto da Quadra do
Ginásio de Esportes, curtindo minha raiva, quando a Júlia bateu essa foto.
Todos tentavam me consolar, mas, eu, dura na queda, por um bom tempo permaneci assim, bicuda.
A volta pra casa foi tranquila... E só
sei que foi assim... Há 33 anos...
(Socorro Melo)