Hoje
acordei ouvindo uma sinfonia: uma chuva fina que se prolongou por quase toda a
noite. O dia amanheceu branco, nublado, mas, para nós nordestinos, não poderia
ser mais lindo. Penso que cada um de nós elevou uma prece aos céus por esta
chuva tão ardentemente esperada. E desejamos tanto que ela permaneça conosco.
Nós, que
fazemos parte do Polígono das secas, que há cinco anos estamos enfrentando uma estiagem severa, que
estamos vendo despencar a nossa economia, ressecar os nossos cactos, rachar o
nosso chão, morrer os nossos animais, e ver flagelados os nossos semelhantes,
por causa da seca e do calor infernal, sabemos o quanto vale uma gota d’água.
Algumas
cidades do meu Pernambuco já decretaram calamidade pública. Os principais
setores da Economia já estão duramente atingidos, e as pessoas já sofrem a
meses a falta de água nas torneiras, tornando-se dependentes dos carros pipas e
de alguns poços que felizmente ajudam no abastecimento, mesmo que de forma
precária.
Estamos à
Mercê de Deus, pois, sem água não se vive, e a pouca e cara disponível, não
sabemos da procedência nem da qualidade.
As
regiões mais favorecidas, onde os reservatórios ainda se conservam, também já
estão com as capacidades bem prejudicadas, tendo em vista estarem fornecendo
para um grande número de municípios.
A
previsão, dada pela Companhia de água do Estado, não é das melhores. Os açudes
e barragens que estão sustentando a região, não vão suportar por muitos meses,
devido à grande demanda, quiçá, três meses. E depois? Essa é uma pergunta que
não quer calar. Esse é o drama do nosso Nordeste.
Assoma-se
a isso a crise política, econômica e
social do país. Talvez até por conta da pobreza, a violência impera. Não temos
segurança, vivemos com medo, sem sequer poder usufruir dos nossos bens de
consumo.
A saúde
pública é precaríssima. Só sabe o que é o serviço de saúde pública, quem
precisa dele. Tive a oportunidade de acompanhar, recentemente, duas pessoas da
família que precisaram desses serviços, e como foi dolorosa a experiência. Quanto
descaso! Quantos agentes de saúde sem preparação! Fiquei indignada. Estou
indignada, pois, quanto de impostos pagamos para merecer tão pouca atenção.
É
doloroso e revoltante ver as pessoas doentes, sofridas, deitadas nos corredores
dos Hospitais, aguardando atendimento. Não culpo os profissionais médicos, não
são eles os responsáveis pela falta de recursos. Graças a tantos deles o povo
ainda é salvo de tantas mazelas. Mas, e o Governo? Onde estão nossos
representantes?
Seca,
crise, pobreza, descaso, é essa a nossa realidade hoje. A realidade do Nordeste
do Brasil. Sim, porque o Nordeste também é Brasil.
A seca do
Nordeste é um fenômeno natural antiquíssimo, sabemos disso. Porém, tem se
agravado ainda mais com as mudanças climáticas, fruto dos desmandos do homem com a natureza. E se
não houver ações políticas sérias de sustentabilidade, para amenizar esta
situação, nós estaremos fritos em poucos anos. É sério. Os cientistas preveem
uma desertificação no Nordeste, em poucos anos, além de outras tantas
previsões assustadoras que atingirão o mundo todo.
Ah, quero ir para Pasárgada! Não sou amiga do rei, como o poeta, mas, penso que é o único lugar do mundo imune a tantas injustiças e sofrimentos. E que Deus nos ajude!
Por Socorro Melo
5 comentários:
Triste situação da seca e de tudo mais que nosso país está vivendo! Só DEUS pra ajudar e que mande água na medida certa por aí! bjs, chica
Uma realidade que você coloca muito triste, infelizmente, assim é. Procuro manter a minha fé em Deus, acreditando que um dia tudo se corrigirá e o povo encontrará a paz e a alegria de viver.
A seca é uma tragédia para as populações que vivem no local. Moçambique sofre desse problema. Lá há uma grande região alterna, três quatro anos de seca com outros de cheias que levam tudo na frente. Vivi lá no século passado 3 anos de seca horrível.
Que Deus tenha piedade da humanidade, e dê aos homens discernimento para não encontrarem soluções.
Um abraço e uma boa semana
Pois é Socorro, aqui na Bahia terra dos carnavais, a cidade dança e lá no sertão falta comida na pança, se rima não combina com os gastos em detrimento da crise hídrica no sertão. Projetos e mais projetos onde muitos recebem altas cifras e nada de efetivo em solução para os problemas cruciais como a seca.
Como diz a canção o sertão continua a Deus dará.
Meu terno abraço amiga e que Deus olhe por estas terras sedentas.
Uma semana de paz e luz e renovadas esperanças pelas chuvas.
Boa noite, querida amiga Socorro!
Cheguei atrasada pois estou no ES e fiquei prisioneira da greve como todo povo daqui...
Fico triste a ver certas cenas tão deprimente com os nordestinos sem água... meu pai era nordestino...
Bjm muito fraterno
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