Pegadas de Jesus

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segunda-feira, 25 de julho de 2011

TRIBUTO AO MEU AVÔ



Foto: por Cillene Melo

 
Chamava-se Pedro Correia de Queiroz. Nasceu em Santana do Congo, na Paraíba, hoje cidade do Congo, e faleceu aos 45 anos aproximadamente(em 1945), numa cidade da Mata Sul de Pernambuco, após um infarto fulminante. Quando faleceu, estava longe de casa, a trabalho. Sua residência, na época, ficava na vila de Água Fria, do município de Belo Jardim-PE, no agreste setentrional de Pernambuco.

Sua passagem pela Terra foi muito breve, e sua história de vida, praticamente, se dissolveu no tempo.
Sei que foi um bom homem, trabalhador e honrado.

Minha mãe tinha nove anos quando ele partiu, de forma abrupta, sem ter a chance de estar no seio de sua família. Apenas o filho Diniz, que na ocasião contava 11 anos, o acompanhava naquela viagem.

Não existe uma fotografia sequer, nada que nos mostre a sua imagem, suas características.

Tempos atrás, encontrei dois livros: Terceiro e Quarto Livros de Leitura, de Felisberto de Carvalho, 47ª e 23ª edições, respectivamente, da Editora Alves & Cia, Rio de Janeiro, 1915, que haviam sido seus. Esses livros, verdadeiras relíquias, me encheram de orgulho por ele.

Contava minha avó, que ele freqüentou a escola por apenas três meses. A família não o apoiava, pois, precisava trabalhar. Estudo era luxo, e aquela gente simples, do campo, tão desprovida de conhecimentos, necessitava da ajuda dos filhos pra sobreviver.

Ele deixou de freqüentar a escola, porém, não perdeu o gosto pelos estudos. Foi autodidata. E não só se alfabetizou, como desenvolveu grande interesse pelos livros. Costumava ler todas as noites, à luz de candeeiro, após o trabalho árduo do campo.

Era informado, apesar do seu tempo, e do seu mundo limitado, e soube apreciar o valor da boa leitura.


Nos livros que encontrei, que eram seus, existem algumas anotações feitas por ele, coisas simples, datas apenas, de acontecimentos marcantes de sua vida, mas, que me impressionaram pela caligrafia legível e até bonita.
Naquelas notas sumárias, percebi um grande homem, e o admirei, e fiquei emocionada. Ali está uma marca da sua passagem pela vida, algo que deixou e que o tempo não destruiu.

Gostaria de tê-lo conhecido. Penso que nos daríamos muito bem. Sinto falta do colo e do abraço que não recebi. Queria dizer-lhe o quanto o admiro, e o quanto a sua determinação me serve de exemplo. E sou tentada a crer, que muito do que sou, seja parte do legado que ele me deixou.

Dedico este post, à memória do meu avô materno, Pedro Correia de Queiroz, por sua simplicidade e obstinação.


Foto: por Cillene Melo

14 comentários:

Eliane disse...

Socorro!! lindo post. Sei mais ou menos oque vc sente com esses livros.
Meu avo paterno faleceu 20 anos antes do meu nascimento. Cresci sem muita informação sobre ele, até que o destino me trouxe as mãos seu titulo de eleitor, mulher exultei de alegria, a letra da assinatura era linda e eu inconscientemente uso o mesmo tipo de M que ele usou um dia pro seu sobrenome. Até minha mãe notou que era igual. A pessoa responsavel pelo documento faleceu e eu hoje tenho o maior orgulho de manter em meu albun de fotos o documento de um elo de minha vida.è tão bom ver que existe gente como eu com orgulho dos antepassados. Um beijo grande da Eliane.

Socorro Melo disse...

Oi, Eliane!

Nossa, é maravilhosa esta sensação! Sempre fui muito curiosa a respeito dele, e perguntava constantemente à minha mãe como ele era. Ela lembrava muito pouco, visto que o perdeu quando ainda era criança. Encontrar esses livros foi ótimo, pois, reconstituí um pouco da sua história, e vi neles a marca que nos deixou: a sua assinatura e as notas tão singelas. Valeu, amiga! Fico feliz por você também.

Beijos
Socorro Melo

Gina disse...

Acho fantástica a determinação de pessoas que não deixam tolher pelos obstáculos e conseguem proezas como essas.
Minha mãe gostava muito de estudar e até chegou a ganhar uma bolsa de estudos para fazer o ginásio, mas seu pai disse-lhe que "para mulher, já estava bom demais!"
Ela e meu pai incentivaram os estudos dos filhos até ver-nos formados.
Bom recordar essas coisas, não?
Bjs.

Misturação - Ana Karla disse...

Socorro posso imaginar a sua alegria em ter um livro como esse em suas mão.
Um documento. Uma história.
Classifico como uma lição de vida, de perseverança, de esforço e vitória.
Meu avô paterno também morreu quando minha mãe tinha 9 anos, mas é outra história...um dia te conto.
Boa semana
Xeros

LEIDSON SANTANA disse...

Olá Socorro,
Que bacana encontrar registros únicos de pessoas importantes pra nós. Pude percebe que a cartilha não só funcionava para ampliar os conhecimentos, mas, também para registrar as datas dos nascimentos dos filhos (vide ampliada a imagem). Uma outra observação que eu faço é a seguinte: poderemos constatar a qualidade do conhecimento depedendo da fonte one nos abastecemos. Veja de onde bebia o grande Patativa do Assaré e que feliz surpresa.
Aos poetas clássicos

(...)
Eu nasci aqui no mato,
Vivi sempre a trabaiá,
Neste meu pobre recato,
Eu não pude estudá.
No verdô de minha idade,
Só tive a felicidade
De dá um pequeno insaio
In dois livro do iscritô,
O famoso professô
Filisberto de Carvaio.

Néia Lambert disse...

Socorro, fiquei maravilhada com essa história e que relíquia você tem em suas mãos. Imagino que deve ter sido muito bom para você descobrir o quanto o seu avô influenciou a sua vida e o seu dom de escrever, afinal você faz isso magnificamente bem!

Beijos

José Sousa disse...

Querida Socorro!
Votei... a saudade já era muita, mas não me sentia em condições. Adorei este teu escrito sobre o seu avô! Tu és dotada de um bom coração, pois falar assim de um avô que nem conhece, não é para toda a gente! Também, como sempre tu me espreitando para logo, logo vir comentar meu capitulo! Um xi de coraçãooooo.
Um beijo bem grande pela gratidão de ficar ao meu lado nas horas dificeis.

Isa Martins disse...

Linda homenagem ao seu avô, uma pessoa de fibra.
Bom dia pra ti, beijos

Anne Lieri disse...

Socorro,que maravilhosa sua homenagem!Os avós deixam mesmo muita saudade na gente!Vc deveria escrever um livro sobre a história de seu avô!Bjs,

Anne Lieri disse...

Socorro,que maravilhosa sua homenagem!Os avós deixam mesmo muita saudade na gente!Vc deveria escrever um livro sobre a história de seu avô!Bjs,

Socorro Melo disse...

Oi, pessoal!

À Gina, Ana Karla, Leidson, Néia,Isa e Anne... Sou mui grata, por prestigiarem este espaço...

Gente, é indescritível a minha curiosidade sobre a vida do meu avô. É admirável a sua obstinação, e o seu interesse pelo conhecimento, numa época em que tudo era tão difícil,principalmente para pessoas pobres e camponesas.

Leidson, que maravilhosa surpresa saber que o grande poeta Patativa do Asseré, também bebeu da fonte do grande mestre Felisberto de Carvalho, assim como o meu avô.

Néia e Anne, quem sabe um dia, quando me aperfeiçoar, não tente escrever algo, baseado na vida dele, que pra mim foi um exemplo.

Um grande abraço a todos. Valeu, gente! :o)

Socorro Melo

Evanir disse...

Muitas vezes não temos muito a oferecer,
ou repartir,mas enquanto existir palavras
que tragam de volta a esperança perdida nas longas
dificuldades da vida,
elas valerão mais do que do qualquer dinheiro ou bem material,
porque renovam a vontade de lutar
até encontrar soluções para nossos problemas.
Algumas palavras, nos momentos certos trazem de volta,
a vontade de viver e tem o poder de transformar
quem está quase desistindo.
Um beijo no coração para sempre sua amiga,Evanir.

Lúcia Bezerra de Paiva disse...

Socorro, amiga,imagino,os seus sentimentos com relação ao seu avô.
Essa relíquia, como que,é uma parte dele. Tudo que tenho, que pertenceram aos meus ou aos que os antecederam, guardo com o maior carinho.
Seu avô deve ter sido mesmo um homem extraordinário, digno desse seu tributo.
Parabéns, por este amor tão lindo...
Beijinhos

Mônica - Sacerdotisa da Deusa disse...

Olá linda flor!
Que saudades que nossos vovôs e vovós deixam não é mesmo?! São inesquecíveis! Linda sua homenagem flor, me comoveu...
Um grande beijo querida.

Flores e Luz.