Depois de tanto tempo, precisei assumir em casa, algumas
atividades domésticas. Nunca fui muito habilidosa com tais atividades, apesar
de gostar da minha casa limpa e cheirosa, mas, quando necessário, arregacei as
mangas e me pus a serviço. Dessa vez, porém, era diferente, pois não seria por
um curto espaço de tempo, mas, por tempo indeterminado. E cozinhar, era o que
eu mais temia. Vi-me angustiada.
Naquela tarde, senti-me desprotegida. O peso da
responsabilidade com as atividades do lar, concomitantes com o trabalho fora de
casa, crescera assustadoramente, e me tomara de pavor. Pensei que não seria
capaz de enfrentar a jornada. Certamente o pouco tempo livre que me restava,
seria insuficiente para atender a demanda que me esperava.
Passados os minutos de tensão, deixei as lamúrias de lado, e
encarei a situação de frente. Pus as mãos na massa, não sem sentir as
dificuldades próprias. Entanto, o fato de desempenhar as atividades, não
significava fazê-las com gosto.
Sempre fui adepta da teoria de trabalhar com amor, pois, além
de tornar mais fácil o ofício, nos rende paz interior, todavia, os dias se
passavam e eu não conseguia executar com amor as minhas atividades domésticas,
principalmente a preparação dos alimentos, e isso me deixava preocupada.
Fazia todos os dias, de forma mecânica, por obrigação, o que
tinha que ser feito. Por vezes resmungava, e me queixava. De outras
oportunidades, me entristecia, pois, queria fazê-lo com ternura, com ânimo,
mas, não conseguia.
Juntou-se a essa situação um cansaço redobrado, pois, passei
a cumprir um terceiro expediente. Sentia raiva de não ter um tempo livre para
cuidar de mim, para ler um livro, ver um filme, ou simplesmente relaxar.
Quando parava para pensar na questão, batia-me um desânimo,
pois, não via luz no fim do túnel. As atividades que eu desempenhava, eram
essenciais, e eu não poderia deixar de realizá-las, um dia, sequer. Também não
cogitava em transferi-las para outra pessoa, uma auxiliar, por exemplo. E
pensava, constantemente, no que mais eu poderia empreender, para livrar-me
delas, porém, não vislumbrava nada.
Certa feita, num dos poucos momentos prazerosos a que
dediquei meu escasso tempo, ouvi uma frase que me impulsionou, e referia-se a
fazermos um propósito, e tentarmos cumpri-lo, por amor a Deus. Achei oportuno,
e já encaixei a minha situação neste contexto: iria fazer o meu propósito,
pois, somente Deus, ou tão somente por amor a Ele, eu talvez conseguisse o meu
intento. E assim o fiz.
Pedi ao Senhor, da forma mais despretensiosa que foi
possível, que me ajudasse a cumprir minha tripla jornada de trabalho com
prazer, por amor a Ele, e a minha querida família. Que eu me despojasse do meu
egoísmo, e da minha má vontade, e tornasse as coisas mais fáceis para mim
mesma, pois, talvez eu estivesse fazendo grande tempestade num copo d´água.
Por um instante, num flash imaginativo, tive uma visão do
futuro: não tinha mais por perto a minha família, e eu daria tudo, naquele
instante, para me debruçar sobre a pia e o fogão, para preparar-lhe as
refeições, mas, eles não estavam lá, eu estava só. Um grande medo me invadiu a
alma, e tomei consciência de que, deveria abrandar meus sentimentos de rejeição
pelo trabalho do lar, e fazê-lo com todo o meu carinho, pois, era por Deus e
pelos meus, que eu estava fazendo.
Pensei em quantas mães estavam agora chorando, ao redor de
panelas vazias, pedindo a Deus que lhes desse pão, para servir aos seus filhos,
e eu ali, reclamando por ter que fazê-lo. Isso me deu um arrependimento
incomensurável, e reforçou a minha vontade de mudar de paradigma.
Toda mudança começa na vontade, e no pensamento, depois, vem
à ação concreta, conseqüência da mudança interior. Percebi, após alguns dias,
que as tarefas já não me incomodavam tanto, e que eu já as realizava sem tanta
aversão, e isso me deixou contente, pois, como teria que fazê-las, melhor que
as fizesse com serenidade.
Isto não significou a ausência do cansaço, pois, seria
impossível, nem que eu, de repente, descobrisse talentos para a culinária e
habilidades domésticas, visto que não tenho mesmo vocação, porém, trouxe-me
tranqüilidade, e um jeito novo de me portar, sem me consumir de angústia e
ansiedade. Tento a cada dia preparar as refeições e organizar outras tantas
tarefas, com zelo e pensando no bem estar da minha família, e num processo
contínuo tenho buscado cumprir o meu propósito. E assim é.
Por Socorro Melo
2 comentários:
Somos animais de hábitos, habituamo-nos a tudo amiga.
Um abraço
Lindo texto e sempre que temos que fazer alguma tarefa, o melhor mesmo é nela colocar amor pois daí ela se desenvolve muito melhor.E em se tratando de preparar alimentos aos familiares, mais ainda é preciso.Passamos nossa energia ... beijos, chica
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