Podres de Mimados – as consequências
do sentimentalismo tóxico, de Theodore Dalrymple, numa narração rebuscada, mas,
ao mesmo tempo agradável e bem humorada, vai nos remetendo a uma realidade cada
vez mais concreta e assustadora do mundo moderno. Leitura instigante que recomendo.
“ O mundo moderno não é
mau. Em alguns aspectos é bom demais e está cheio de virtudes insensatas e
desperdiçadas”, diz o escritor britânico G. K. Chesterton. E continua: “ as
virtudes enlouqueceram porque foram isoladas umas das outras e estão circulando
sozinhas”. Theodore Dalrymple, com os exemplos apresentados ao longo do
livro Pobres e Mimados – as consequênias
do sentimentalismo tóxico, dá mostras de que seu conterrâneo tinha razão.
É claro que compaixão e
anseio por justiça são sentimentos legítimos. Mas, quando integrados numa compreensão
idealizada demais do que é o homem, tais sentimentos tendem a se corromper. É
justamente isso que acontece quando primeiro os intelectuais, e depois a
população em geral, aderem à perspectiva romântica, segundo a qual o homem
nasce bom, mas é transformado, corrompido por uma sociedade má. Disso decorre o
raciocínio de Dalrymple “ a exibição de vícios tornou-se prova de que o homem
foi maltratado. Aquilo que se considerava defeito moral tornou-se condição de
vítima, consciente ou não; e, como a humanidade tinha nascido feliz, além de
boa, a infelicidade e o sofrimento eram igualmente prova de maus-tratos e
vitimização. Para restaurar no homem seu estado original e natural de bondade e
felicidade, era necessário, portanto, uma engenharia social em larga escala.
Não surpreende que a revolução romântica tenha levado à era dos massacres por
razões ideológicas”.
À perspectiva
romântica, o autor – que não tem crença religiosa – contrapõe a visão cristã,
evidenciando de que maneira esta é muito menos sentimentalista que a secular.
De acordo com Dalrymple: “ O secularista enxerga vítimas por toda parte, hordas
de sofredores que precisam ser resgatados da injustiça. Nessas circunstâncias,
tornou-se vantajoso – psicológica e, às vezes, financeiramente – reinvindicar para
si a condição de vítima, porque ser uma vítima é ser beneficiário da injustiça.
É por isso que tantas pessoas altamente privilegiadas,que, segundo os padrões
de todas as populações que já existiram, levam uma vida de conforto, liberdade
e possibilidade extraordinárias, reivindicam a condição de vítimas”.
Na visão cristã, a
tolice e a maldade são reconhecidas como partes indissociáveis da condição
humana, que variam apenas em grau entre os indivíduos. Justamente por isso, “é possível
para alguém que acredita no pecado original, o mais útil de todos os mitos, ser
perceptivo e compassivo ao mesmo tempo”. Já quem acredita na bondade natural da
humanidade, que perdoa tudo porque afirma entender tudo, tende a se tornar
indiferente e insensível. A leitura do
livro deixará evidente a estreita relação que há entre sentimentalismo e
brutalidade. (Fonte:É Realizações-Editora).
“O sentimentalismo é o
progenitor, o avô e a parteira da brutalidade”
Theodore Dalrymple.
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