E quando menos se espera uma palavra ou uma expressão discorde, coloca à prova todo um processo de busca pela paz e serenidade. É difícil conviver. É difícil aceitar o que é diferente. É muito mais difícil respeitar a liberdade de pensamento do outro sem ofensas.
Travei uma grande luta interior para entender isto. Percebi, após duras penas, que é mais sábio calar, deixar de expressar meus sentimentos ou opiniões, com quem não sabe ouvir e compreender.
Perdi e ganhei com isso. Perdi a esperança de ter alguém com quem pudesse conversar, falar de sonhos, de ideias, e da vida, alguém onde eu pudesse me derramar, me aconchegar, me dividir... Ganhei, no entanto, quando entendi a limitação do outro, sua incapacidade de dar aquilo que não tem: equilíbrio, maturidade, serenidade, doçura, compreensão...
O silêncio foi a melhor resposta que encontrei. Já optei por este caminho uma vez, e me foi favorável, vou me utilizar sempre dele, quando preciso for. Há situações em que é melhor nos amordaçar.
Fico pensando no quanto perdemos, em toda riqueza de vida, de interação, de cumplicidade, de companheirismo, com as nossas atitudes impensadas, nosso jeito rude de falar, nossa falta de sensibilidade no trato com as pessoas. O quanto nos afastamos, de quem amamos, muitas vezes, por causa de nossos caprichos.
Fiz isso tantas vezes. Quis impor minhas verdades, meu jeito de ser, de pensar, de ver o mundo. Com certeza machuquei, humilhei, porque é impossível que um comportamento egoísta não deixe marcas, até mesmo feridas. E me feri também.
Até que um belo dia despertei, e vi o quanto estava utilizando errado os talentos que Deus me deu. E dei início a um processo de volta, de recuperação de tudo quanto me equivoquei. Nada fácil. A pior fase desse processo é manter o equilíbrio das emoções, é entender que os outros não despertaram ainda e que como eu são dominados pelo ego.
E acabei, de certa forma, tendo que mudar algumas atitudes, alguns pensamentos, a fazer considerações, a olhar certas coisas com um jeito novo, a renunciar a certos pontos para alcançar serenidade e paz.
Consegui lograr muito com minha nova forma de pensar e de agir. Todavia, fica sempre um vazio, um desejo, de poder compartilhar com outros o que carrego dentro de mim, e sei que não posso, pois, corro o risco de ser mal interpretada, retrógrada, incompreendida. É melhor calar. Optar pelo silêncio, e deixar que cada um aprenda com seus próprios erros, que não somos ilhas, que precisamos desaguar nos outros, que as diferentes opiniões podem ser motivos de aprendizado.
Á medida que vivo, aprendo. Já aprendi o suficiente para não querer mais impor minhas ideias, nem querer mudar ninguém. Já foi suficiente as bofetadas que a vida me deu, a cada vez que quis ensinar um caminho melhor para os outros e acabei rotulada de chata e de intrusa.
Cansei das críticas. Agora não. Não mais. Não vou me deixar afetar por egos inflados. Vou ficar apenas olhando da minha janela. Eu não tenho mais tempo a perder. Eu preciso crescer. Preciso preparar minha bagagem com coisas novas. E me esvaziar de tudo que seja contrário à minha busca pela paz.